sábado, 29 de junho de 2019

Governo da antimatéria



Em 1312 eram poucos
os dias de sol
embora o sol não fosse
pouco a ser lembrado;

em 1312 ou trevas
(ou ir-se ao estar-se
onde) era o verão,
o seu dedo em riste

que alertava o coração
sobre a leveza
do dia, do diáfano,
sobre a leveza

do indestrutível,
sempre reportado -
o indestrutível - sempre,
pelas coisinhas no ar.

Reportado o perene
quando um herói
(não de gesta, um nosso)
sonhou dentro dali

o mero de seu sonho,
o fatal cansar-se vendo
e ser visto,
e quanto foi encarado

logo o mendigo
(outro herói?) percebendo
do logro o lusco
o fusco do dia.

(Também este, ó
irreversível o troço
suportando, ó suporte
pela força do hábito;

e era a rosa
o suportado, e era
o hábito o contato
também este,

mesmo renegado
o conceito,
os conceitos, fímbrias,
tosca fímbria

o estético:
não ultrapassando
do sono o pouco -
isso aqui ó

do ridículo, o
ordinário híbrido
também este,
tosco exercício.)

Que havendo
o projeto, o real
e seu quê de
real e de fantástico,

fosse tecnica-
mente detalhe,
um saber da energia
que o destino desse

àquele justo, avesso
que era ao luxo
até o exagero -
sem sobressalto

o nosso herói:
benfeitor dos ratos
nos dias de sol –
nos dias sinistros!,

e tagarelando seja
ainda e tartamudeando
não faça mal -
se um demais houver

do destino, sobre o estado
impraticável
intolerável
das coisas havidas

que deveriam cansá-lo,
usá-lo (ao nosso herói)
que deveriam, que deveria
usar - coisas usadas.

E era devido ao uso
contínuo, irreversível
sob o lusco
o fusco do logro.

Ó jeito antigo -
muito antigo o verão
(1312 ou trevas) -
de saber-se visto

apesar de nosso
o herói; apesar
de procurando a sombra,
a intensa procura

do sereno despertar,
dos lugares frescos
onde o detalhe
- onde o destino.


Ari Marinho Bueno         




sábado
14.05.2005

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