Como o torvelinho da noite tinha terminado de triturar o fio do sentido daqueles dias loucos , como tudo isso era fato que ninguém mais podia contestar , digo que eu estava ali, simplesmente lavando minhas mãos . No início veio a ordem para que evacuássemos do ponto . Que atravessássemos o mato , depois o mangue . E que alcançássemos o outro lado do amanhecer . Era uma praia . Ali deveríamos esperar a barca que nos levaria para onde ninguém mais sabia o nome , se é que a mensagem se referia ao nome de algum destino. Sei que naquele ponto eu lavava as mãos no mar . E que na areia um peixe se oferecia a uma gaivota que descia lenta . Um dos homens me pediu alguma coisa, esfaimado. Antes que eu entendesse , tirei meu disfarce e disse : " É teu ."
João Gilberto Noll. in Relâmpagos. ; FSP. 19/06/00
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