Dois Poemas de Frio e de Dor
Assis de Mello
Poemas
do meu livro "Na Borda da Ilha"
(sem a formatação original )
1.
Remexo a gema
da noite
antes do tédio
da clara manhã
: têmpera fosca
de antimônio e caulim
–quantos fantasmas
reviram nos caleidoscópios
e se desmontam
pra depois se recoserem
numa falange de proteus?!
Hora de hulha
povoada de folhas
e sarridos
Hora de unha
motinação
e esgarçadura
Explode a laca
pra fora de mim
e é assim
que me aplaino:
cochonilha atada à raiz da geada
2
Marés de sizígia
chumbo de águas-vivas
e de polvos
Chumbo de tentáculos
A caravela portuguesa
não se presta à poesia
–é eminência de ardume –
Quisera estrondar-me
como a jubarte
que se atreve no ar
esgueirar-me
–anguila –
nas fendas do coral
arrancar-me
feito um raio
de peixe prata
E não ensimesmar-me
como um gastrópodo
na concha
sem o mar
O teredo da morte está na madeira do leito, está na
quilha do navio. Mas o amor golpeia mais forte nos lambris do sonho. E eu ouço
a noite rasgar-se no talha-mar de uma proa*
* Parágrafo da parte 5.2 da Seção IX (Estreitos São
os Barcos) do livro “Estrofe”, de Saint-John Perse. In: Amers - Marcas
Marinhas, tradução de Bruno Palma, Ateliê Editorial, Cotia - SP (2003)
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