terça-feira, 3 de setembro de 2013

I



Como não sei onde vamos morrer
por baixo de um lençol branco
só vejo nas minhas unhas um pouco sujas
a limpeza áspera das tuas mãos.

Em outra vida talvez fôssemos nômades
estrelas cadentes
ou o coral que levanta das tuas cartas
os meus pontos-finais de areia
a água resolvida e encruzilhada.

À sombra da figueira brava que sobe pelas tuas costas
cresce um blues furioso, uma flor
a quem alguém chama pelo nome do futuro.

Como um deus judeu
de cem mil nomes em segredo
ou um vazio mais pleno do que turvo
o que ainda não veio
se faz de face

sorri, sugerindo o que mostra
e estende a palma aberta
trouxeste o que me falta?
Todo o meu corpo está calmo
olho ao outro como se visitasse um aquário
entre as anêmonas do vir a ser
a vida sem lógica sentimental dos peixes.

As pontas dos meus dedos rangem umas sobre as outras
e só percebo esta denúncia.

Júlia Hansen


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