Uma mulher caminha para um canto de uma loja e deita um
pacote de papelão, destes de pão.
Será oferta de algum alimento para esses panos de carne viva
e sangrando desesperanças? Um momento de alívio ao sofrimento tão banal ,que
clama nas vísceras. Fome primal de
viver... não de esperar a morte bater sem tanta dor e haja a
"maldita" ou o pó do capeta. Que desdita...
Não, ela está lá, furtiva...vergonha por ser cristã
caridosa? Alimentando mendigos...esses trapos imundos que a alta burguesia quer
varrer para longe, construir muros, cobrar pedágio e até pagar para vê-los em
outro zoológico de horrores.
Ela não, está ali, vês ?
Não! Não é pão ou resto de comida. É um bebê recém-nascido.
Largou. Saiu. Em meio ao sangue chorava rubro mas fraquinho.
Uma cadela sem pedigree chegou, cheirou, lambeu limpando o
sangue e, enrodilhada ao pacotinho humano, aqueceu-o uivando baixinho, até ser
chutada e, quanto ao vitelinho, o mendigo levou para algum lugar...
Wilson Roberto Nogueira
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