segunda-feira, 3 de março de 2014

Vitelinho



Uma mulher caminha para um canto de uma loja e deita um pacote de papelão, destes de pão.
Será oferta de algum alimento para esses panos de carne viva e sangrando desesperanças? Um momento de alívio ao sofrimento tão banal ,que clama nas vísceras. Fome primal  de viver... não de esperar a morte bater sem tanta dor e haja a "maldita" ou o pó do capeta. Que desdita...
Não, ela está lá, furtiva...vergonha por ser cristã caridosa? Alimentando mendigos...esses trapos imundos que a alta burguesia quer varrer para longe, construir muros, cobrar pedágio e até pagar para vê-los em outro zoológico de horrores.
Ela não, está ali, vês ?
Não! Não é pão ou resto de comida. É um bebê recém-nascido.
Largou. Saiu. Em meio ao sangue chorava rubro mas fraquinho.
Uma cadela sem pedigree chegou, cheirou, lambeu limpando o sangue e, enrodilhada ao pacotinho humano, aqueceu-o uivando baixinho, até ser chutada e, quanto ao vitelinho, o mendigo levou para algum lugar...


Wilson Roberto Nogueira

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