Lembras quando me vistes morrer?
Mão estendida, palma crua,
vida nua,
presa na janela
por um lençol
amarrado,
nó sobre nó.
Então trouxestes vinho
e manchastes o lençol,
como que para tirar
da morte o gosto seco,
o sangue morno
e ainda assim calar,
roubar daquilo que gemia
a voz torpe,
da autopiedade.
Morri torcida entre fibras
urdidas num dia sem sol.
Morri,
regada a vinho barato
rindo de ti que permanecias.
Pensavas que a morte era eterna,
que o fim sossega o pranto
naquele silêncio branco.
Aquele,
do doce de espuma,
da bruma na lua,
da cama
na primeira luz da manhã.
Morri no escuro,
no entanto vivo,
aqui, bem abaixo de ti.
Vejo teu rosto ao vento
cravado pelo tempo,
rasgado,
dilacerado.
Aqui te espero chegar,
mesa posta,
castiçais vermelhos,
taças de cristal.
Beberemos teu vinho,
sorrindo
das armadilhas
no imenso quintal.
Taniamares
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