Escreve-se por excesso ou por lacuna. No primeiro caso, a
vida extrapola a vida e é necessário pôr este plus no papel. A vida transborda
e este transbordamento vira literatura. É o caso de Rimbaud, de Pagu e Oswald,
dos beats... No segundo, escreve-se porque "a vida só não basta",
como disse Pessoa. Nesse caso, escreve-se para se criar outros mundos ou para
suprir este mundo das coisas que faltam. O melhor exemplo é o próprio Pessoa.
Mas todos os românticos e os simbolistas, e boa parte dos modernos, podem ser
colocados aí. A vida é pouca, é insuficiente, e se escreve para preencher esta
falta, este vazio. Mas tanto num caso como no outro não há coincidência entre
vida e literatura. Sempre há uma assimetria, uma não-identidade. Superávit ou
déficit. A literatura nasce dessa incontornável dissonância.
Otto Leopoldo Winck
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