domingo, 10 de fevereiro de 2013

ABACAXI PERNAMBUCANO




Em 1997, a maternidade de Taquaritinga do Norte, Pernambuco, ficou famosa em todo o país. Marília Andressa Menezes de Oliveira deu à luz quatro gêmeos de vez – Manuel, André, Vinícius e Jadir.
Os pais dos gêmeos não tinham bastante vintém para manter-se numa cidade do interior e mudaram para o Recife.
A princípio, eles trabalharam numa roça, disposta nos arredores do Recife. Os gêmeos visitavam uma das escolas de Olinda, disposta no Alto da Sé.
Na turma, eles fizeram amizade com os três meninos que depois deixariam a escola e, morando num subúrbio, praticariam muitos assaltos no centro do Recife, de Olinda e de Camaragibe. Os policiais arrestaram-nos mas, devido à menor idade dos assaltantes, não podiam imprisioná-los. Depois do caso, a avô paterna dos gêmeos resolveu levá-los a Portugal, onde a situação era mais ou menos tranquila. Morava em Ponta Delgada e lá começaram a morar os netos dela.
Tendo nove meses do período de adaptação (eles concluíram o sexto ano no Recife em dezembro, mas tinha que começar o sétimo ainda em setembro), o que lhe tinha que ser favorável para estudar e aprender a entender a pronúncia micaelense.
Terminaram todos os quatro a escola com distinção e entraram na Universidade dos Açores.
Depois de eles concluírem o segundo ano de estudos, a avó deles morreu. Faleceu aos 102 anos. Como ela estava pobre, os gêmeos não ganharam muito dinheiro de herança. Visto que Portugal sofria a crise de desemprego, eles não encontraram um lugar em que pudessem trabalhar para sustentar-se. Pedindo eles o subsídio à universidade, esta demorou tanto em responder que eles desistiam de esperar.
A certa altura, eles souberam que um dos “meninos”, Gustavo, chegara à ilha. Ele entrou na casa, em que eles moravam, trazendo as garrafas de uma bebida com leve presença de álcool, que sabia a sumo de laranja.
- Após a nossa avó morrer, estamos numa situação difícil, - disse Manuel, não podemos empregar-nos, nem pagar a conta.
- Podem emprestar algum dinheiro?
- Não. Ninguém emprestará dinheiro aos pobres estudantes. Agora, no tempo da crise.
- Sabe por que estamos na crise?
Todos os gêmeos pensaram nisso, mas ninguém respondeu claro.
- Estamos na crise por causa dos bancos. São eles que a provocam.
- O que você quer dizer?
- Será bom assaltar uma agência bancária? Ela está numa das vilas na Terceira. Conheço-a. Lá não tem câmaras de segurança, nem alerta automático, só tem um guarda-noturno mas tem alguma coisa que o projeto não previu.
A casa que estou alugando e a da agência no século XIX pertenciam a um dono. Ele resolveu cavar um túnel entre elas. Depois, ele vendeu ambas as casas a outra pessoa. Esta vendeu a segunda casa ao banco, mas ninguém dos negociantes até hoje descobriu a existência do túnel, porque a entrada nele do edifício do banco era escondida. O solo era de azulejos e a entrada parecia e ainda parece mais um azulejo de solo. Acho melhor vocês fazerem o assalto à noite do depois de amanhã, pois será a noite de sexta-feira para o sábado. A agência só trabalha de segunda a sexta-feira.
Daí a dois dias, o guarda-noturno e os funcionários do banco festejavam aniversário de um dos seus colegas. Um dos amigos deles trouxe-lhes um abacaxi.
- Donde vem este ananás?
- Este abacaxi é de uma das roças de Pernambuco. Bem difícil de descascar. Comprei-o no mercado desta aldeia. Outra coisa que eu cá trouxe são 5 garrafas de cachaça.
- Nossa! Nunca a bebi!
E, esquecendo-se do serviço, os funcionários do banco (inclusive o guarda-noturno) e o amigo deles todos juntos consumiram 5 litros de cachaça. Ficaram tão bêbados que, procurando um lugar para dormir, saíram do banco e, fechando a porta, foram para casa. As garrafas e a loiça ficaram na mesa. O leitor não acreditara na tolice que fizeram estes funcionários da agência bancária. Pois além da loiça e garrafas eles deixaram na mesa as chaves de todas as caixas da agência.
Ao mesmo dia, desembarcaram Gustavo e os gêmeos na Terceira. Após o jantar, Gustavo saiu da casa alugada em direção à amiga dele. Os gêmeos foram à agência bancária através do túnel.
Levantou-se o azulejo e entraram os assaltantes gêmeos à agência. Examinando-a, Jadir viu que a agência no momento estava vazia e que mesmo o guarda-noturno saiu da agência. Outrossim, viu a mesa, cheia de loiça não lavada, garrafas vazias de cachaça e as chaves de todas as caixas. Abrindo-as, os gêmeos levaram dinheiro todo, puseram-no nos sacos grandes e retiraram-se através do túnel. O azulejo que guardava a entrada retornou-se ao lugar.
Na segunda-feira, os policiais estavam descascando e partindo um abacaxi, também pernambucano e também da mesma vendedora quando o guarda e os funcionários comunicaram a desaparição do dinheiro da agência bancária. Todos os policiais da ilha chegaram à aldeia para investigar o caso.
Todas as impressões datiloscópicas nas caixas foram idénticas e parecia pertencerem a uma pessoa. Depois, atravessando o túnel, o “azulejo” de cuja entrada eles não identificaram logo, foram à casa alugada por Gustavo e a amiga dele confirmou aos policiais o não estar na casa, tampouco na agência bancária durante esses dias.
Ele passou o tempo todo no apartamento dos gêmeos, em Ponta Delgada. Um deles, Vinícius, comprou, ainda na sexta-feira, um bilhete de Euromilhões e este venceu. Isto eles sabiam após voltarem do assalto. Sorte, não é? Foram todos no sábado a Lisboa recolher o dinheiro ganho de vez. Dessarte, o ato de eles terem muito dinheiro teria comprovante legal – este tinha origem de loteria. Assim eles compraram uma casa em Ponta Delgada com dinheiro vivo.
Foram, porém, chamados os amigos de quem alugou a casa, para entregarem as impressões dos dedos. Inclusive os gêmeos.
O caso é raríssimo. Os gêmeos tiveram as impressões idénticas, cuja presença foi registrada na investigação. A ADN deles também é idéntica. Cada um negava a participação de assalto, jogando a culpa ao outrem e dizendo que era o dinheiro, ganho por um deles na loteria. O bilhete de euromilhões era válido e era vencedor.
O procedimento foi encerrado, devido à impossibilidade de detectar o cenário do crime e de detectar o culpado. Assim os bancários e a polícia das Ilhas dos Açores tinham mais um abacaxi vindo de Pernambuco. E feliz ou infelizmente, depende do ver, não o resolveu.
 
Trem Azul

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