ABACAXI PERNAMBUCANO
Em 1997, a maternidade de Taquaritinga do Norte,
Pernambuco, ficou famosa em todo o país. Marília Andressa Menezes de Oliveira
deu à luz quatro gêmeos de vez – Manuel, André, Vinícius e Jadir.
Os pais dos gêmeos não tinham bastante vintém para
manter-se numa cidade do interior e mudaram para o Recife.
A princípio, eles trabalharam numa roça, disposta nos
arredores do Recife. Os gêmeos visitavam uma das escolas de Olinda, disposta no
Alto da Sé.
Na turma, eles fizeram amizade com os três meninos que
depois deixariam a escola e, morando num subúrbio, praticariam muitos assaltos
no centro do Recife, de Olinda e de Camaragibe. Os policiais arrestaram-nos
mas, devido à menor idade dos assaltantes, não podiam imprisioná-los. Depois do
caso, a avô paterna dos gêmeos resolveu levá-los a Portugal, onde a situação
era mais ou menos tranquila. Morava em Ponta Delgada e lá começaram a morar os
netos dela.
Tendo nove meses do período de adaptação (eles
concluíram o sexto ano no Recife em dezembro, mas tinha que começar o sétimo
ainda em setembro), o que lhe tinha que ser favorável para estudar e aprender a
entender a pronúncia micaelense.
Terminaram todos os quatro a escola com distinção e
entraram na Universidade dos Açores.
Depois de eles concluírem o segundo ano de estudos, a
avó deles morreu. Faleceu aos 102 anos. Como ela estava pobre, os gêmeos não
ganharam muito dinheiro de herança. Visto que Portugal sofria a crise de
desemprego, eles não encontraram um lugar em que pudessem trabalhar para
sustentar-se. Pedindo eles o subsídio à universidade, esta demorou tanto em
responder que eles desistiam de esperar.
A certa altura, eles souberam que um dos “meninos”,
Gustavo, chegara à ilha. Ele entrou na casa, em que eles moravam, trazendo as
garrafas de uma bebida com leve presença de álcool, que sabia a sumo de
laranja.
- Após a nossa avó morrer, estamos numa situação
difícil, - disse Manuel, não podemos empregar-nos, nem pagar a conta.
- Podem emprestar algum dinheiro?
- Não. Ninguém emprestará dinheiro aos pobres estudantes.
Agora, no tempo da crise.
- Sabe por que estamos na crise?
Todos os gêmeos pensaram nisso, mas ninguém respondeu
claro.
- Estamos na crise por causa dos bancos. São eles que a
provocam.
- O que você quer dizer?
- Será bom assaltar uma agência bancária? Ela está numa
das vilas na Terceira. Conheço-a. Lá não tem câmaras de segurança, nem alerta
automático, só tem um guarda-noturno mas tem alguma coisa que o projeto não
previu.
A casa que estou alugando e a da agência no século XIX
pertenciam a um dono. Ele resolveu cavar um túnel entre elas. Depois, ele
vendeu ambas as casas a outra pessoa. Esta vendeu a segunda casa ao banco, mas
ninguém dos negociantes até hoje descobriu a existência do túnel, porque a
entrada nele do edifício do banco era escondida. O solo era de azulejos e a
entrada parecia e ainda parece mais um azulejo de solo. Acho melhor vocês
fazerem o assalto à noite do depois de amanhã, pois será a noite de sexta-feira
para o sábado. A agência só trabalha de segunda a sexta-feira.
Daí a dois dias, o guarda-noturno e os funcionários do
banco festejavam aniversário de um dos seus colegas. Um dos amigos deles
trouxe-lhes um abacaxi.
- Donde vem este ananás?
- Este abacaxi é de uma das roças de Pernambuco. Bem
difícil de descascar. Comprei-o no mercado desta aldeia. Outra coisa que eu cá
trouxe são 5 garrafas de cachaça.
- Nossa! Nunca a bebi!
E, esquecendo-se do serviço, os funcionários do banco
(inclusive o guarda-noturno) e o amigo deles todos juntos consumiram 5 litros
de cachaça. Ficaram tão bêbados que, procurando um lugar para dormir, saíram do
banco e, fechando a porta, foram para casa. As garrafas e a loiça ficaram na
mesa. O leitor não acreditara na tolice que fizeram estes funcionários da
agência bancária. Pois além da loiça e garrafas eles deixaram na mesa as chaves
de todas as caixas da agência.
Ao mesmo dia, desembarcaram Gustavo e os gêmeos na
Terceira. Após o jantar, Gustavo saiu da casa alugada em direção à amiga dele.
Os gêmeos foram à agência bancária através do túnel.
Levantou-se o azulejo e entraram os assaltantes gêmeos
à agência. Examinando-a, Jadir viu que a agência no momento estava vazia e que
mesmo o guarda-noturno saiu da agência. Outrossim, viu a mesa, cheia de loiça
não lavada, garrafas vazias de cachaça e as chaves de todas as caixas.
Abrindo-as, os gêmeos levaram dinheiro todo, puseram-no nos sacos grandes e
retiraram-se através do túnel. O azulejo que guardava a entrada retornou-se ao
lugar.
Na segunda-feira, os policiais estavam descascando e
partindo um abacaxi, também pernambucano e também da mesma vendedora quando o
guarda e os funcionários comunicaram a desaparição do dinheiro da agência
bancária. Todos os policiais da ilha chegaram à aldeia para investigar o caso.
Todas as impressões datiloscópicas nas caixas foram
idénticas e parecia pertencerem a uma pessoa. Depois, atravessando o túnel, o
“azulejo” de cuja entrada eles não identificaram logo, foram à casa alugada por
Gustavo e a amiga dele confirmou aos policiais o não estar na casa, tampouco na
agência bancária durante esses dias.
Ele passou o tempo todo no apartamento dos gêmeos, em
Ponta Delgada. Um deles, Vinícius, comprou, ainda na sexta-feira, um bilhete de
Euromilhões e este venceu. Isto eles sabiam após voltarem do assalto. Sorte,
não é? Foram todos no sábado a Lisboa recolher o dinheiro ganho de vez.
Dessarte, o ato de eles terem muito dinheiro teria comprovante legal – este
tinha origem de loteria. Assim eles compraram uma casa em Ponta Delgada com
dinheiro vivo.
Foram, porém, chamados os amigos de quem alugou a casa,
para entregarem as impressões dos dedos. Inclusive os gêmeos.
O caso é raríssimo. Os gêmeos tiveram as impressões
idénticas, cuja presença foi registrada na investigação. A ADN deles também é
idéntica. Cada um negava a participação de assalto, jogando a culpa ao outrem e
dizendo que era o dinheiro, ganho por um deles na loteria. O bilhete de
euromilhões era válido e era vencedor.
O procedimento foi encerrado, devido à impossibilidade
de detectar o cenário do crime e de detectar o culpado. Assim os bancários e a
polícia das Ilhas dos Açores tinham mais um abacaxi vindo de Pernambuco. E
feliz ou infelizmente, depende do ver, não o resolveu. —
Trem Azul
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