segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Noemia veste saia comprida vermelha,



De Mara Paulina Arruda


blusa de florzinhas e calça chinelas havaianas gastas. Arrancou o cabo da vassoura e fez uma “bengala” para se proteger. Mora na linha Almeida, aqui em Chapecó. Quando sai para passear ou pagar alguma conta esconde no sutiã uma sacola de plástico onde está o pouco dinheiro que tem recebido de sua parca aposentadoria. Junto ao dinheiro o registro de nascimento que mostra para o motorista ao pegar o ônibus. A juventude passou rápido, ela nem viu. Um dia ficou espantada com uma tela enorme que a prefeitura instalou para as crianças assistirem um filme. Se ri esconde com as mãos a boca banguela. Sua casa é uma tapera; tem cinco filhas e nove netos; dizem que é descendente de índios, ela não sabe; fica brava quando alguém atazana a vida dela; conta histórias dos maridos que teve dando muitas gargalhadas. Não conhece outras cidades. Um dia quis ir pra Floripa mas não deu não deu. Seu tempo é anteontem e as penas que caem dela fazem parte dos pássaros que voam juntos. Não adianta fazer ensopado dela; na mudança das estações seu corpo brota.

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