Noemia veste saia comprida vermelha,
De Mara Paulina Arruda
blusa de florzinhas e calça chinelas havaianas gastas.
Arrancou o cabo da vassoura e fez uma “bengala” para se proteger. Mora na linha
Almeida, aqui em Chapecó. Quando sai para passear ou pagar alguma conta esconde
no sutiã uma sacola de plástico onde está o pouco dinheiro que tem recebido de
sua parca aposentadoria. Junto ao dinheiro o registro de nascimento que mostra
para o motorista ao pegar o ônibus. A juventude passou rápido, ela nem viu. Um
dia ficou espantada com uma tela enorme que a prefeitura instalou para as
crianças assistirem um filme. Se ri esconde com as mãos a boca banguela. Sua
casa é uma tapera; tem cinco filhas e nove netos; dizem que é descendente de
índios, ela não sabe; fica brava quando alguém atazana a vida dela; conta
histórias dos maridos que teve dando muitas gargalhadas. Não conhece outras
cidades. Um dia quis ir pra Floripa mas não deu não deu. Seu tempo é anteontem
e as penas que caem dela fazem parte dos pássaros que voam juntos. Não adianta
fazer ensopado dela; na mudança das estações seu corpo brota.
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