Querem enquadrar o escritor. Profissional ou não? O pior, é
a definição do que seja profissional. Aliás, vamos e venhamos, a sociedade está
há muito compartimentada e dependente do que está abaixo e do que está acima. O
sedimento social está desgrenhado. È muitos nem vão saber o que é. E muitos dos
que presumem que sabem, dirão, ordem, ordem nessa oração: a sociedade precisa
de escadas.
Escavo por entre dicionários e vejo:
profissão
s. f.
1. Declaração pública.
2. Solenidade na qual alguém se liga por votos a uma ordem
religiosa.
3. Ofício; emprego; ocupação; mister.
de profissão: por estado: Um sábio de profissão; por hábito:
Um mentiroso de profissão.
profissão de fé: declaração pública da sua fé religiosa ou
das suas opiniões políticas.
profissão liberal: profissão intelectual cuja remuneração
deve estar isenta de qualquer especulação.
Bueno, alguma vez encontrei e depois estava estupefato:
profissão: atividade que garante a sobrevivência.
É interessante percerber: profissão liberal: profissão
intelectual cuja remuneração deve estar isenta de qualquer especulação.
E aí nos remetemos à permissão histórica de especular o
trabalho braçal. Olhe, não é nada disso que quero falar e, mais bem
possivelmente isso não estará excluído. As associações de ofício da idade média
deram um arranque para essa segmentação de eu sou isso, e tu é aquilo. Mais do
que o citado, e fazendo um giro radical, dizer que fazes algo equivale sempre a
fazer bem feito. Então, o escritor é aquele que sabe o que está fazendo. Ou
melhor, dizendo, faz e isso é tudo. É horrível e sei que não haverão muitos compartilhando
deste terror, ver alguém dissecando um texto com facão rude para chegar aos
tostões desejados e assim ser aceito como escritor profissional. Uma vez me
perguntaram: e aí como é a inspiração. Eu não acredito em inspiração e nem em
cheque milagroso. Eu acredito em vômito. A literatura é o indesejado. O que se
precipita depois de tanto observar e permitir o trânsito dentro da alma. Sai.
Esparrama-se de maneira inconseqüente, mas já sabe que é o providencial. E não
somos poetas sempre. Somos nesse instante aonde a cólera desabita o anonimato e
o olho transpira e esxuda a fome infinita.
Julio Urrutiaga Almada
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