Andar nu não é somente despir o corpo. É acima de tudo
reconfortar-se no vazio. No vazio anterior onde ali cintilava o olhar severo da
vergonha, o tom inquisidor da censura, o descompasso do medo e inclusive, a
curiosidade e avidez do desejo. Cada gesto em nova liberdade numa cadência
silenciosa da carne. Ventre milagroso gerador de vida. Pele aromatizada de um
frescor engarrafado numa contraditória versão olfativa. O corpo nu inspira o
amante em condecorada libido, o poeta desavisado colecionador de rimas, o
artista caçador do belo. O corpo nu não tem o que esconder. O exílio da
aparência. Sinais do tempo, cicatrizes de uma história, o óbvio convincente.
Seja de riso ou lágrimas. Amarguras e repressão. O corpo nu jamais é somente um
corpo nu.
Karinne Santiago
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