sexta-feira, 25 de agosto de 2017

O CORPO NU



Andar nu não é somente despir o corpo. É acima de tudo reconfortar-se no vazio. No vazio anterior onde ali cintilava o olhar severo da vergonha, o tom inquisidor da censura, o descompasso do medo e inclusive, a curiosidade e avidez do desejo. Cada gesto em nova liberdade numa cadência silenciosa da carne. Ventre milagroso gerador de vida. Pele aromatizada de um frescor engarrafado numa contraditória versão olfativa. O corpo nu inspira o amante em condecorada libido, o poeta desavisado colecionador de rimas, o artista caçador do belo. O corpo nu não tem o que esconder. O exílio da aparência. Sinais do tempo, cicatrizes de uma história, o óbvio convincente. Seja de riso ou lágrimas. Amarguras e repressão. O corpo nu jamais é somente um corpo nu.


Karinne Santiago

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