sábado, 16 de fevereiro de 2013

MEDITAÇÃO DO MORIBUNDO



“MEDITAÇÃO DO MORIBUNDO”. Se me fosse dada a ousadia de deslocar este poema, chamaria de “Meditação do Moribundo”. Aqui, o corpo, como o mundo através do corpo que o contempla, é representado por meio de imagens parasitárias, peçonhentas. O baixo-bestiário bíblico em alguma medida é acionado para enfatizar os seres que se alimentam da “carne putrefata” ou do que resta de proveito deste ser que se esvai aos poucos. Penso no moribundo porque, à medida que a coluna entorta e o câncer assola o esôfago – impedindo a fala, por exemplo –, perdemos medida e controle sobre nós mesmos e nosso ambiente, de tal forma que a própria ‘generosidade’ incomoda, em dupla chave: aquela do passado, que criou uma redoma que pouco preparou para a vida e que parece ter gerado dificuldade de dizer “nãos” necessários que evitassem uma “generosidade promíscua” que, no final das contas, suscitou relações parasitárias que não se tem mais força para reverter; mas há também a chave do presente do moribundo, pois cada ato de ‘generosidade’ com o moribundo silente e impotente evidencia a sua perda sobre si mesmo, ressalta os interesseiros atuais que o cercam por conta de um testamento (reforçando a sensação de estado de sítio), ilumina a perda completa de si neste corpo sitiado que apodrece, que agora sitia e atormenta o ‘eu’ defrontado pela finitude. Tudo isso provoca o balanço sobre o mundo e si mesmo, pessimista, na medida da dor, da frustração e da finitude doentia; na medida da consciência que faz o balanço de suas ações no mundo e não gosta do que vê. Então, meditemos com o Moribundo para aprendermos a estar vivos.

Alexander Martins Vianna.

Sobre o poema de Alberto Lins Caldas

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