segunda-feira, 21 de abril de 2014
Almoço em família
A mosca que entra pela janela
Meio-dia, hora de almoço
Indesejada pelos cegos
E amada pelos mudos
Distrai as crianças e os velhos
A inquietação e o tempo em espera
Para que tudo isso se torne algo mais
A velha reza dos lúcidos abastados:
''Pão nosso de cada dia, nos dai agora..''
E meus ouvidos, loucos para ouvir Miles Davis,
Não suportavam o oráculo
Povo branco comendo carneiro
Não ousavam comer a própria carne
Era feio demais
E mosca não era comida benzida
Era suja demais
Carlos segurou o arroto,
Maria segurou o espirro,
Juliana segura os talheres,
E nenhum suspiro de alívio
O câncer se disseminou pelos amores
Todos os olhares vieram do Paraguai
Choravam de misericórdia
E riam da televisão
E a mosca? Era deus
E ninguém sabia
M.f.
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