segunda-feira, 21 de abril de 2014

Não o chamem de poeta

Redson Vitorino             


Imaginava aquela boca
aqueles dentes brancos mordendo-
os
Imaginava aquela crina de anjo na
casa dos 30 anos
Imaginava aqueles olhos pequenos
protegidos por aço e vidro
e tinha o cheiro que não conseguia
me lembrar
Imaginava aquela voz arrastada
nos meus ouvidos como pássaros
inconvenientes pela manhã
impondo uma vida mesmo que não
houvesse tempo
Imaginava aqueles dias que
poderia ter ao lado dela sem
precisar ficar na dúvida de segurar
o gatilho por mais um minuto
Imaginava a casa arrumada com a
janta na mesa depois de sentir
vontade de matar meio mundo
então eu bebia nos bueiros do meu
ócio
nas poças d'águas constantes que
desafiavam meus pés
estava sendo vencido por murros
bem dados pelo tempo
E imaginava o gosto de terra
enquanto ela estaria sorrindo
confortavelmente em algum lugar
com sol
e imaginava a corda frouxa
lentamente me pondo de molho
Só imaginava

morria errado de novo

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