Paul Smith Silva era um menino nem menos inteligente e nem
mais arteiro que os meninos da sua idade. A única coisa que o diferenciava dos
demais meninos de sua cidadezinha, era que ele havia nascido com uma perninha
mais curta que a outra.
Certo dia, no final da manhã, quando voltava manquitolando
da escola, viu sua mãe saindo do curral. Seu suor não era apenas do calor que
fazia. Ela, ao vê-lo, disse:
— Filhinho, vai pra cozinha que a mamãe já serve o armoço. A
sua cabra pariu hoje.
— O que é, é hominho, mamãe?
— É sim, meu fio.
— Bonito ele?
— É de uma belezura que dá gosto de vê.
Ansioso, ele falou:
— Deixa eu dá uma oiada nele, mamãe, uma oiadinha só.
— Não, ainda tá tudo sujo de sangue, a mãe dele tá limpano
ele agora.
— E a minha cabra, mamãe, vai ficá boa.
— Ela sofreu um bocadinho, mamãe teve que dá uma força, mais
agora ela tá bem.
Paolzinho, como carinhosamente era chamado, entrou na casa.
Começou a andar de um lado para o outro da sala, pisava firme pelo assoalho
barulhento, passava a mão na cabeça como se estivesse muito nervoso. Lembrou
que sua avó, quando ficava nervosa com as galinhas que não botavam, fumava
cigarro de alecrim para tentar se acalmar. Enrolou um bem fininho, e em meio às
baforadas, pensava: “Será que o cabritinho é parecido com eu, será que o
bichinho vai andar cocho também?”.
A Compota de Pimenta e outros Contos "Puramente"
Picantes, 2006, J.Damasio
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