ainda vives, meu amor de eras
a marcha de um abril insano
calendário juliano
o teu desamor
em tua cruz inglória
arena adúltera e máscula
bradando a vitória
da gula flácida, da angústia sádica
de um usurpador
deste às pústulas cortejadas
as datas santificadas
do teu corpo augusto
de trovador
ah, sultão de ultrajadas beatas!
a mim, amor meu de séculos
tua morte falsa
com festim em latas
o teatro de um bobo austero
rima sem esmero
o palácio mágico
de banquete cego
com o peixe estrábico
ator, ator
se ousasse o contágio
com a bílis seca
de teu hades
encenado jade
lançaria em tua maquiada face
de velho alcorão
(anjo prematuro, cuspe de ancião)
o visgo da noite
em que me proclamou
provo a cada dia tua hemácia limpa
tua falsa linfa
onde livras as mãos
da sagrada tinta
do real terror
ergo meu sepulcro esquálido
a cada letra festiva
de teu nome cármico
que não calo
nem no vento, nem no lodo
inválido
ardo império e bestiário
no fiasco frívolo do teu atanor
canonizo-me por ti,
mentira, mentira
de inquisidor
...
* Porque hoje é dia de colar nas costas dos amigos, peixes
recortados em papéis, com inscrições como “chute-me” e “beije-me”. É dia do
Peixe de Abril.
Andréia Carvalho Gavita
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