Luiz Felipe Leprevost
os crepúsculos Paris/Texas ao longo das estradas que voltam
pro sul. caso já tenha deitado os olhos numa garota com os cabelos
encaracolados ao vento, passado a mão na coxa, ligado o rádio, olhado pelo
retrovisor e “ok, Kurt Cobain, tudo vai ficar tranquilo daqui pra frente”. isso
se já foi capaz de estudar minimamente o esqueleto do fogo, as entranhas do pranto,
a ressaca das tintas de Modigliani. talvez você seja capaz de ir encarando
búfalos de frente. talvez se apiede de recém nascidos se perguntando “o que
eles vieram fazer aqui?” é provável que você tenha desejado amparar Silvia
Plath no chão da cozinha, é isso, se você perdeu tempo nos fliperamas de
Guaratuba, em cinemas privê. você já deve ter arranjado confusão por se sentir
deslocado nos salões dos bailes de debutantes. sei lá, talvez desejasse ser
invencível como Jean Claude Van Dame, movimentando-se feito libélula na Sessão
da Tarde, derrubando bananeiras com as canelas carcomidas. é possível que
esteja ansioso pra conhecer a História toda, ou quem sabe só vai gargalhando
feito um crítico de cadernos literários, achando tudo tremenda imbecilidade. não
existe método nem requinte aqui, a vulgaridade do texto é feita de parágrafos
apunhalados, pânico-amor, beautiful loser amor, estrelinhas apagando e
acendendo em carrossel dentro do crânio. isto é inflamável, os pulsos estão
boquiabertos. manja as pálpebras batendo asas, passarinhos que colidem e vão
dando cambalhotas ladeira abaixo. quem suporta concorre a uma rifa. já banquei
o idiota que passa horas ensaiando o que falar e quando chega a hora manda uma
merda do tipo “por acaso a sandália não tá um pouco grande no teu pé? ou “as
canções do Chico com eu lírico feminino funcionam melhor com mulheres que não
atingem o orgasmo”. nem místico, nem, talvez, demasiado urbano. visionários
sabem becos, ruelas, apartamentos encardidos. tudo tranquilo daqui pra frente.
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