segunda-feira, 21 de abril de 2014

Luiz Felipe Leprevost


os crepúsculos Paris/Texas ao longo das estradas que voltam pro sul. caso já tenha deitado os olhos numa garota com os cabelos encaracolados ao vento, passado a mão na coxa, ligado o rádio, olhado pelo retrovisor e “ok, Kurt Cobain, tudo vai ficar tranquilo daqui pra frente”. isso se já foi capaz de estudar minimamente o esqueleto do fogo, as entranhas do pranto, a ressaca das tintas de Modigliani. talvez você seja capaz de ir encarando búfalos de frente. talvez se apiede de recém nascidos se perguntando “o que eles vieram fazer aqui?” é provável que você tenha desejado amparar Silvia Plath no chão da cozinha, é isso, se você perdeu tempo nos fliperamas de Guaratuba, em cinemas privê. você já deve ter arranjado confusão por se sentir deslocado nos salões dos bailes de debutantes. sei lá, talvez desejasse ser invencível como Jean Claude Van Dame, movimentando-se feito libélula na Sessão da Tarde, derrubando bananeiras com as canelas carcomidas. é possível que esteja ansioso pra conhecer a História toda, ou quem sabe só vai gargalhando feito um crítico de cadernos literários, achando tudo tremenda imbecilidade. não existe método nem requinte aqui, a vulgaridade do texto é feita de parágrafos apunhalados, pânico-amor, beautiful loser amor, estrelinhas apagando e acendendo em carrossel dentro do crânio. isto é inflamável, os pulsos estão boquiabertos. manja as pálpebras batendo asas, passarinhos que colidem e vão dando cambalhotas ladeira abaixo. quem suporta concorre a uma rifa. já banquei o idiota que passa horas ensaiando o que falar e quando chega a hora manda uma merda do tipo “por acaso a sandália não tá um pouco grande no teu pé? ou “as canções do Chico com eu lírico feminino funcionam melhor com mulheres que não atingem o orgasmo”. nem místico, nem, talvez, demasiado urbano. visionários sabem becos, ruelas, apartamentos encardidos. tudo tranquilo daqui pra frente.

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