quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O horror em todas as sociedades: o assassinato do pequeno Mohamed



Aos que vêm profetizando o apocalipse e a violência que refugiados possam trazer à sociedade alemã, esta semana nós mais uma vez recebemos as notícias da violência e do horror que a própria sociedade alemã, como qualquer outra sociedade ocidental, pode significar para os refugiados que chegam. O menino bósnio Mohamed, de 4 anos, que fora sequestrado do prédio da Agência para Registro de Refugiados (LaGeSo) no bairro berlinense de Moabit, foi encontrado morto no porta-malas de um homem alemão de 32 anos, em uma pequena cidade do estado de Brandemburgo. Não há indícios de motivação xenófoba por parte do acusado, que confessou ter abusado sexualmente do menino, e, para horror geral, confessou também esta manhã (30/10), segundo a imprensa alemã, ser responsável pelo sequestro do menino Elias, de 6 anos, desaparecido há seis meses. Elias também está morto.

Mohamed. Elias. Dois meninos com nomes de profetas. Dois nomes que nos ligam à tradição tríplice abraâmica. Mohamed, profeta do Islã. Elias, profeta da tradição judaica e do Velho Testamento cristão. Dois meninos como outros, que encontraram um fim terrível em meio a nossas sociedades ocidentais doentes, violentas. Não pude deixar de pensar em tudo isso, após ter lido tantos comentários racistas e islamofóbicos nos últimos tempos, mesmo aqui, entre leitores da DW Brasil.

Sobre este homem que matou os meninos, estou certo de que dirão que não se pode generalizar. Não se pode culpar toda uma sociedade pelo crime de um único louco. De qualquer forma, ainda não foi divulgado seu nome, seu histórico, e sua… etnia, o que certamente acabará sendo usado de alguma forma pela imprensa. Como seria justo que um leitor deste texto diga que eu próprio o estou usando.

Talvez, tudo o que eu queira dizer é que o horror está entre nós, seja qual for a sociedade. Pessoalmente, não compreendo como leitores brasileiros reagem a notícias sobre a política externa alemã. Pessoas de um país como o Brasil, também formado pela unificação de diversas tribos, de estados que já pertenceram a outros países, assim como regiões que um dia foram parte da Alemanha hoje estão dentro das fronteiras da Polônia e da República Tcheca.

Quanto ao pavor pela islamização do Ocidente, já escrevi que em outros momentos da História esta islamização teve efeitos verdadeiramente civilizatórios para a cultura europeia, referindo-me especificamente ao al-Andalus, quando a cultura grega, por exemplo, foi devolvida à Europa nas mãos de tradutores árabes e judeus. Deles recebemos tanto em ciência, na matemática, além do seu arcabouço literário que infelizmente ainda não tomamos como nosso.

Devo dizer que sou tão a favor da islamização do Ocidente quanto o sou de sua cristianização. Ao ver o que fanáticos cristãos vêm fazendo no Congresso Nacional, como este nojento projeto de lei, o PL 5069, vejo o que o fanatismo religioso tem causado à esquerda e à direita, a Leste e Oeste.

Ricardo Domeneck 

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