quinta-feira, 30 de março de 2017

Curitiba Sutil


O negro armado de amor por sua cultura
Curitiba não está mais segura
Como isto pode acontecer?
Foi tudo planejado
Não tinha como dar errado
O negro tinha que embranquecer
Alisar seus cabelos
Esquecer da sua origem
Da sua etnia
Dos reis e das rainhas
Do candomblé, da capoeira
Do samba, do congado
Esquecer do seu legado
Não tinha como dar errado
O negro tinha que embranquecer...
Com a ciência de Angola
O jogo inverteu
O negro ta se encontrando
O branco empreteceu
Soltei um rabo de arraia
E o mandingueiro se encolheu
Na sombra do Iroko...
Um negro vestido de branco
Começou a ensinar
Era novembro, quase natal
No marco zero da nossa capital
No meio de um circulo ancestral
O povo cantava e louvava Tempo
Ojá pano braço, símbolo de pureza
Que simbolicamente vestíamos a gameleira
E o respeito pairou no ar
Zara Tempo!!! Era a ordem
E todos começaram a dançar de Exu a Obatalá
Com o próprio corpo a rezar
Sabedoria do povo Nagô/Bantu
Coisa humana ... de santo
Ligar o antigo com o novo
O sagrado emana do povo
Com palmas ,tambor e canto
Revelando ... conhecimento milenar
Não vamos nos calar
É chegado a hora de se respeitar
As múltiplas formas de cultuar
O sagrado sem sangrar...
Sem amputar, nossa cultura popular, nossa tradição
Nossa fé, ta no nosso sangue irmão
Nossa história no coração de Curitiba
Em silêncio... adormecida
O sutil racismo
Transbordando poesia


(Mel e Candiero, In. Afrocuritibanos: Crônicas, Manifestos e Pensamentos Azeviche. Curitiba, Editora Humaita, 2015.)

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