quinta-feira, 30 de março de 2017

PAROLE IN LIBERTÀ, OSTINATO RIGORE


Grande descoberta da linguística do século XX foi a da função poética da linguagem, por Roman Jakobson. Isto quer dizer que todo mundo que fala é poeta. A poesia é uma propriedade essencial da linguagem, não um arbítrio nem uma fantasia de poetas e literatos.
Todos os povos praticam a função poética. Todas as pessoas no seu dia a dia frequentemente utilizam a função poética. Essa função poética se manifesta quando a linguagem, em vez de se referir ao real, se volta sobre si mesma, como nos trocadilhos, nos jogos de palavra, no uso de rimas, enfim, em todos os momentos quando a linguagem se descola do princípio da realidade e passa a servir ao princípio do prazer.
Só por isso a poesia é a linguagem do desvio, da infração, do erro. Por isso, os poetas são loucos, eles produzem a loucura da linguagem. Por isso, poesia não é literatura, é música, é pintura, é desenho, é imagem, é orgasmo de linguagem.
Poesia é a liberdade da minha linguagem.
A máquina que em nós gera provérbios é a mesma que gera poemas.
Comer e coçar é só começar.
Quem cansa não me alcança.
Mateus, Mateus, primeiro os meus.
Quem vai embora não embolora.
Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
Paulo Leminski.
Jornal Nicolau, n. 18, Curitiba, Secretaria de Estado da Cultura-PR, dez. 1988.

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