por que no domingo a água
tem outra velocidade
e é feriado nacional
em nossas vísceras?
por que no domingo
o amor é mais lento, baldio,
vadiado
e os corpos pesam
10 gramas menos?
por que no domingo
há este insético zumbido
nas retinas?
por que este vazio grávido
de tudo – oco sem beira, espera
do quê, meu deus?
por que nossas mãos ficam
quase cristalinas?
por que a ordem natural pode ser
suspensa e de uma crisálida
irromper um pássaro?
por que as árvores cantam
um tom abaixo?
e os cães latem noutra língua?
e as crianças, cavalgando
desilusões de não ser ainda, calam
desentendimentos?
por que o amor, ósseo, dói como flor
nascendo
sobre o ombro esquerdo
e a vida respinga das páginas
que viramos quando lemos?
não há consolo necessário,
domingo não é preciso.
domingo não é um dia,
apenas mais um dia.
domingo é uma semana,
domingo é a vida inteira
lu cañete + rodrigo madeira
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