domingo, 19 de março de 2017

POEMA PARA RECITAR NO ESCURO


A chuva caiu de uma maneira despropositada
toda a noite. Do alto do promontório eu vi o dia chegar
como um colapso. Ignoro
os caminhos da vida para além da floresta.
Ignoro as feições do meu rosto
quando choro ou quando rio
de desespero. Me disseram que o tempo é um rio.
Mas o tempo é um mar
onde todos vamos ao fim naufragar.
A chuva caiu de uma maneira despropositada
como um castigo. Ou bálsamo. De manhã andei doze léguas
sobre a campina alagada,
até me sentir extenuado.
Depois me sentei sobre um rochedo
e cantei todas a canções que eu sabia.
Existir é às vezes tão estúpido
como uma noite de tormenta.
Ou magnífico como o sol
a me crestar a fronte altiva.
Ao voltar, eram vermelhos o salgueiros
da beira da estrada.

Otto Leopoldo Winck

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