Um tempo de paz
Eu ando de morte pelos campos de chá.
Eu palmilho de tristeza
ibérica
os caminhos de avelã.
Eu compro a lã em sítios
de chuva fina que pede
meu ressonar.
Sonho meu orixá,
eu canto lá,
eu canto lá.
A nervura do vento
é ter se escondido
por detrás dos taquarais
e ouvir o poema
do leito, das águas,
quando a gente dorme
no chão do mato
e escuta os passarinhos
alinhavarem a urdidura,
esse tear
rústico
da vida.
Sou entre os silêncios.
Comecei a fazer
com meu amor de avó
um tecido de luz solar.
Afinei a melodia
do sabiá
em cada ponto
de agulha.
Vejo meus mortos
passarem calmamente.
O semblante aquiescendo
o sofrimento
como um aceno de dedos
na ponta de um chapéu.
E o leque da terra
se abrindo em cores
a cada primavera.
Eu canto lá,
onde meu orixá nasceu.
Ele ainda é criança,
corre no campo
sua violência
e dança pra abrandar
meu coração.
A paz foi um fiozinho de escuro
que começou a noite.
Um fiozinho de vagalumes.
Fiori Esaú Ferrari
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