domingo, 26 de março de 2017

Pré-rafaelita, te procurei nos bosques


entre as ninfas,
antes que Apolo fizesse seus estragos
sobre o mundo.
A vida é uma floresta onde os ecos
dos encantamentos medievais
ressoam ainda entre os álamos.
Depois que constatei minha loucura,
recolhi-me à cabana abandonada,
aquela de pedras enegrecidas,
coberta de hera antiga,
no fundo do vale obscuro.
É aí, entre cartapácios de alquimia,
que busco a fórmula do verbo imorredouro.
Ontem, de manhã,
julguei que era tua voz que me acordava.
Engano meu: era só a cotovia.
Todavia, não existe solidão
para quem é irmão das ervas e dos seixos da colina.
Eu sou pobre,
tenho de meu só um manto roto e um cajado,
mas possuo todos os trajetos de meus passos
e os gestos possíveis de minhas mãos de dedos longos.
A lua é minha confidente
e o sol não cresta mais minha testa morena,
pois me tornei como um tronco de carvalho
ou uma rocha
na encosta da ribanceira.
Se alguém pensa que sou triste
é porque não conhece a verdadeira alegria.
Minhas pálpebras pesam
mas dentro em mim esplende
um carnaval sem máscaras e sem fim.
Otto Leopoldo Winck

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