Um das lendas urbanas mais famosas do Paraná é o causo do
pirata Zulmiro e de seu tesouro que foi enterrado num dos túneis subterrâneos
do bairro das Mercês, na cidade de Curitiba. Existem várias versões para este
causo, a mais romântica é que Zulmiro, chamava-se na realidade Summers e era um
corsário inglês, uma espécie de militar que era pago para abater os navios dos
piratas maus. Reza a lenda que Summers e seus soldados invadiram um
navio-pirata que estava carregado de tesouros roubados. Mas, Summers se
apaixonou por uma cigana que estava dentro da embarcação, desembarcou no porto
de Paranaguá, pegou um dos baús e fugiu com esta donzela para Curitiba, onde
enterrou o tesouro. Vamos ler esta lenda abaixo:
Há muitos anos atrás, na Europa existia uma cigana chamada
Naranda, que não conseguia engravidar. Um certo dia, a sua caravana parou em
frente a um jardim de hortênsias. Assim,
Naranda aproveitou a tranqüilidade para orar e oferecer um lenço para a
padroeira dos ciganos:
- Santa Sara Kali, ofereço-lhe este lenço abençoado...
- Por favor, faça com que eu engravide!
- Se eu ficar gestante de uma menina, ela se chamará
Hortênsia como as lindas flores deste jardim.
Algum tempo depois Naranda engravidou e teve uma menina com
lindos olhos azuis. Conforme a promessa ela batizou a garota com o nome de
Hortênsia. A pequena cresceu em beleza e tornou-se uma linda mulher. Desde
criança esta menina gostava de tudo que era relacionado ao mar: água, peixes,
areia, navios e principalmente piratas. Hortência gostava de histórias sobre
corsários e o seu sonho era se casar com um, apesar de saber que uma cigana só
pode se casar com outro cigano.
Um certo dia, a caravana parou perto de um porto e os
ciganos se apresentaram no local. As mulheres dançaram com lenços, leques e
pandeiros para o público. Porém, no meio da platéia havia um conde mau que se
apaixonou, a primeira vista por Hortênsia e mandou raptá-la. Assim, naquela
noite homens encapuzados invadiram o acampamento e levaram Hortênsia, que foi
colocada como prisioneira dentro do porão do castelo do conde. Porém, a cigana
tinha uma lixa mágica escondida na saia e lixou as grades. Então, ela saiu
correndo em direção ao acampamento, mas notou que não havia mais ninguém lá.
Logo, esta moça percebeu que os guardas do conde estavam a perseguindo. Deste
jeito, a jovem fugiu até o porto e se escondeu no porão de um navio sombrio que
logo partiu. Naquele porão ela notou que existiam tesouros nos baús. Mas, de
repente, esta moça escutou um barulho e se escondeu dentro de um baú vazio.
Porém abriram o baú e Hortênsia viu uma mulher e um pirata com um papagaio no
ombro. Desta maneira o homem perguntou:
- Quem é você?
- O que você está fazendo aqui?
- Pois, saiba que iremos jogá-la aos tubarões.
A donzela respondeu:
- Por favor, não me matem.
- Eu sou a cigana Hortênsia...
De repente a mulher interrompeu:
- Você é cigana?
A jovem respondeu:
- Sim!
Desta maneira, a mulher continuou:
- Eu sou Beth a esposa, do pirata Ricardo, chefe deste
navio.
- Você sabe jogar tarô e ler o futuro nas mãos?
Hortênsia respondeu:
- Sim.
Beth indagou:
- Poderia fazer estas coisas para mim e para as esposas dos
outros piratas?
A donzela respondeu:
- Claro.
A mulher explicou a Ricardo:
- Por favor, não jogue a cigana no mar, pois ela não é
perigosa. Devemos ter medo apenas dos corsários ingleses que se dizem piratas,
mas são pagos para abater os navios de nós, os piratas verdadeiros.
Então Hortênsia leu a sorte das pessoas do navio e ajudou
nas tarefas domésticas.
Porém, de repente, todos ouviram tiros de um canhão. Logo um
dos piratas gritou:
- São os corsários ingleses!
Desta maneira uma grande batalha começou até quando os
corsários ingleses invadiram o navio dos piratas e tomaram o comando da
situação. Assim, no meio daquela confusão, o corsário Summers olhou para
Hortênsia e se apaixonou por ela. No desespero, a donzela disse:
- Por favor, não me mate, pois eu não faço parte do grupo de
piratas. Sou apenas uma cigana...
O rapaz perguntou:
- Você aceita fugir comigo?
A jovem disse:
- O que?
Summers repetiu:
- Você aceita fugir comigo?
- O navio irá desembarcar daqui a pouco no porto de
Paranaguá. Podemos pegar um baú de tesouros e irmos até a Vila Nossa Senhora da
Luz...
A cigana exclamou:
- Sim, eu aceito!
- Vamos embora logo!
Então, o corsário pegou um dos baús e fugiu com Hortênsia para
a Vila de Nossa Senhora da Luz, que hoje é Curitiba. Lá, Summers mudou seu nome
para Zulmiro, já que estava sendo procurado pela justiça inglesa. Ele gastou
uma parte do tesouro, porém a outra metade ele enterrou num dos túneis, que os
jesuítas construíram no bairro das Mercês. Reza a lenda que este baú está
emparedado nos subterrâneos, mas que um dia será achado e que os fantasmas de
Zulmiro e Hortênsia passeiam no Bosque Gutierrez nas noites de Lua Cheia.
Luciana do Rocio Mallon