Quando vejo o rosto de um idoso, não me prendo a manchas e
rugas, mas ao belo molde que ainda é, e tento resgatar a imagem original. Vou
retraçando as linhas até me dar por satisfeito. Em geral, os olhos traem
inesperada vivacidade. Não me detenho à decrepitude, mas à história que cada
qual construiu. Não aos passos inseguros, mas à sólida aventura que viveu.
Muito menos ao esquecimento, mas às ricas memórias. Assim que descobri que a
vida continua além da linha do horizonte, todos os idosos se tornaram cofres de
significados. Nesses cofres, a serem abertos em tempo oportuno, eles guardam os
significados que coletaram ao longo da vida. O problema é que alguns acabam por
esquecer o segredo. Cabe a mim, como médico e amigo (outro ser humano),
ajudá-los a reencontrar. É trabalhoso, mas vale cada sorriso, cada lágrima.
Marcio Leite
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