sábado, 15 de abril de 2017

Senilidade


Quando vejo o rosto de um idoso, não me prendo a manchas e rugas, mas ao belo molde que ainda é, e tento resgatar a imagem original. Vou retraçando as linhas até me dar por satisfeito. Em geral, os olhos traem inesperada vivacidade. Não me detenho à decrepitude, mas à história que cada qual construiu. Não aos passos inseguros, mas à sólida aventura que viveu. Muito menos ao esquecimento, mas às ricas memórias. Assim que descobri que a vida continua além da linha do horizonte, todos os idosos se tornaram cofres de significados. Nesses cofres, a serem abertos em tempo oportuno, eles guardam os significados que coletaram ao longo da vida. O problema é que alguns acabam por esquecer o segredo. Cabe a mim, como médico e amigo (outro ser humano), ajudá-los a reencontrar. É trabalhoso, mas vale cada sorriso, cada lágrima.

Marcio Leite

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