Sobre isso do suicídio e a série 13RW. Acho que os limites
abertos do que o corpo pode sentir empurram pra sensação de querer um copo mais
cheio. Os jovens estão tendo pouca atenção hoje? E quando foi que os jovens
tiveram alguma atenção? A questão toda acho que é a falência dos afetos. Esse
querer que não se basta. Esse querer insuficiente. Distúrbios psíquicos gerados
por ferramentas que aceleram a ansiedade num grau alucinado; efeitos colaterais
de drogas que foram perscritas na infância para embotar a energia criativa das
crianças e obrigá-las a suportar horas a fio em fileiras, dentro de um quadrado
burro chamado sala de aula, empurrando conteúdos medíocres sem validade à vida
prática, e as mãos sempre embaixo das carteiras com celular plugado a redes sociais
e mídias que deturpam imagens e transtornam identidades. Ninguém cultua a
curiosidade por mais de 5min. Ela é descortinada e novamente se entra num outro
looping de ansiedade a ser saciada. Essa é a geração addicted. O próprio vício
de assistir uma série no netflix compulsivamente e comentar, isso acelera a
velocidade da mente. Os corpos não estão quase nunca no mesmo lugar em que a
mente está. Por que não eliminar o corpo se ele é algo duro, quase imóvel,
enquanto a mente viaja em páginas virtuais elaborando desejos no limite do
impossível de serem saciados. O livro que mais impulsionou uma onda de suicídio
no XIX foi Werther. E quem era esse garoto? Alguém que tinha tudo e sofria de
um tédio inacreditável. O tédio acaba quando ele encontra alguma coisa que
embora esteja a sua disposição ele não pode ter. Mas o não poder ter o
enlouquece quando essa coisa/objeto/consumo/charlote passa às mãos de um outro
e evidencia werther como insuficiente pra ele mesmo. A melhor frase que me vem
agora é a do nelson rodrigues: jovens, envelheçam. Envelhecer é se aproximar do
corpo. O que também não dá pra descartar é se essa alta taxa de suicídio
(jovens entre 15 e 29, depois de acidentes de transito, morrem mais de
suicídio), é um sintoma da alta onda de consumo fácil em que tudo, até o
próprio sujeito, torna-se descartável. É preciso aprender a não ter. Lidar com
a falta. E o suicídio, ah, Ismália... A romantização do suicídio é o fim dos
belos suicidas. Sim, mas tem também isso de os adultos foderem com a infancia e
a adolescencia e juventude e etc.
Assionara Souza
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