quinta-feira, 20 de abril de 2017

Sobre isso do suicídio e a série 13RW




Sobre isso do suicídio e a série 13RW. Acho que os limites abertos do que o corpo pode sentir empurram pra sensação de querer um copo mais cheio. Os jovens estão tendo pouca atenção hoje? E quando foi que os jovens tiveram alguma atenção? A questão toda acho que é a falência dos afetos. Esse querer que não se basta. Esse querer insuficiente. Distúrbios psíquicos gerados por ferramentas que aceleram a ansiedade num grau alucinado; efeitos colaterais de drogas que foram perscritas na infância para embotar a energia criativa das crianças e obrigá-las a suportar horas a fio em fileiras, dentro de um quadrado burro chamado sala de aula, empurrando conteúdos medíocres sem validade à vida prática, e as mãos sempre embaixo das carteiras com celular plugado a redes sociais e mídias que deturpam imagens e transtornam identidades. Ninguém cultua a curiosidade por mais de 5min. Ela é descortinada e novamente se entra num outro looping de ansiedade a ser saciada. Essa é a geração addicted. O próprio vício de assistir uma série no netflix compulsivamente e comentar, isso acelera a velocidade da mente. Os corpos não estão quase nunca no mesmo lugar em que a mente está. Por que não eliminar o corpo se ele é algo duro, quase imóvel, enquanto a mente viaja em páginas virtuais elaborando desejos no limite do impossível de serem saciados. O livro que mais impulsionou uma onda de suicídio no XIX foi Werther. E quem era esse garoto? Alguém que tinha tudo e sofria de um tédio inacreditável. O tédio acaba quando ele encontra alguma coisa que embora esteja a sua disposição ele não pode ter. Mas o não poder ter o enlouquece quando essa coisa/objeto/consumo/charlote passa às mãos de um outro e evidencia werther como insuficiente pra ele mesmo. A melhor frase que me vem agora é a do nelson rodrigues: jovens, envelheçam. Envelhecer é se aproximar do corpo. O que também não dá pra descartar é se essa alta taxa de suicídio (jovens entre 15 e 29, depois de acidentes de transito, morrem mais de suicídio), é um sintoma da alta onda de consumo fácil em que tudo, até o próprio sujeito, torna-se descartável. É preciso aprender a não ter. Lidar com a falta. E o suicídio, ah, Ismália... A romantização do suicídio é o fim dos belos suicidas. Sim, mas tem também isso de os adultos foderem com a infancia e a adolescencia e juventude e etc.

Assionara Souza

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