Reza a lenda que os curitibanos tradicionais têm preconceito
contra pessoas que usam chinelo de dedo. Nunca levei em consideração este fato,
pois vejo pessoas de todas as tribos e de classes sociais usando este tipo de
calçado.
Porém, neste ano de 2014, num curso, uma professora fez o
seguinte comentário:
- Curitibano tem preconceito contra quem usa chinelo de dedo.
Pois, eu fui num shopping da capital paranaense com este tipo de calçado e o
guarda não me parou de seguir.
Naquele instante um aluno fez o seguinte comentário:
- Eu queria entrar num barzinho do Largo da Ordem, mas o
segurança não me deixou porque eu estava de Havaianas.
Ao escutar estes comentários, a minha mente foi parar no ano
de 1979, quando eu tinha 5 anos de idade e escutei a seguinte queixa do meu
tio:
- Poxa, eu fui ao banco e a operadora de caixa olhou para
meu chinelo de dedo, fez cara feia e me atendeu muito mal.
Desta maneira, também, me recordei na época em que eu era
vendedora de loja. Quando, de repente, entrou uma senhora bem vestida, mas com
Havaianas. Então, uma balconista olhou para a outra e disse:
- Não atenderei esta freguesa porque ela está de chinelo de
dedo.
Assim, eu afirmei:
- Mas, eu vou atender!
Deste jeito, a referida senhora fez uma compra farta e quem
lucrou com as comissões naquele dia fui eu.
Estes dias eu estava dentro do ônibus e ao ver várias
pessoas com chinelo de dedo, comecei a refletir:
- Por que só aqui em Curitiba a maioria dos moradores tem
preconceito contra quem usa chinelo de dedo?
- Afinal, morei em outras cidades e sei que situação não é
assim.
De repente, uma idosa, calçando Havaianas, sentou-se ao meu
lado e começamos a conversar. Ela disse que seu nome era Mikahila. Então, papo
vai e conversa vem, chegamos até o assunto: preconceito que alguns curitibanos
têm contra pessoas que vestem chinelos de dedo. Logo, dona Mikahila, me
explicou:
- Este causo do preconceito contra quem usa chinelos de dedo
começou na Idade Antiga, lá no Leste Europeu.
- Naquela região havia duas tribos distintas: numa as
pessoas tinham os pés normais e podiam calçar de tudo. Já, a outra era composta
por pessoas com os pés muito sensíveis, por isto o único calçado que elas
podiam usar eram os chinelos de dedo feitos com couro e madeira.
-Um certo dia, estas tribos brigaram e a aldeia das pessoas
com chinelo de dedo saiu derrotada. A partir daquele dia, a clã fracassada
passou a ser escrava da vencedora. Por isto, o chinelo de dedo passou a ser
símbolo de pobreza e alvo de preconceito.
-O tempo passou, mas infelizmente este tipo de tradição
permaneceu. Até que no século dezenove, alguns descendentes destas duas tribos
distintas resolveram pegar o navio para trabalhar no Brasil. Por isto, na
embarcação, umas pessoas vestiam calçados
fechados e outras chinelos de dedo. O problema foi que os indivíduos
destas duas tribos escolheram a mesma cidade para viver: Curitiba. Por isto, o
preconceito contra quem usa chinelo de dedo se espalhou entre os moradores de
Curitiba, naquela época, e continua até os dias de hoje com os curitibanos mais
tradicionais.
Após escutar esta história eu disse:
- Ainda bem que no final dos anos 50, inventaram os chinelos
da marca Havaianas, que possuía o seguinte slogan: Sandálias Havaianas todo
mundo usa.
- Meu sonho é que um dia esta frase seja praticada, na vida
real, em Curitiba.
- Mesmo assim, eu acredito que até mesmo os curitibanos mais
tradicionais usam chinelos de dedo, no calor, bem às escondidas, nos quintais
de suas casas.
Luciana do Rocio Mallon
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