Quando tudo era incriado
e o nada embalado a vácuo,
Deus sonhava no passado
e seguia o próprio rastro.
Nem alegre ou mesmo triste,
Deus é sempre simplesmente.
Sem erguer um dedo em riste,
pensou luz numa semente!
Pegou um pouco de nada,
lançou em lugar algum
e a luz, vendo-se obrigada,
deu-se à luz - milagre um!
Deus ao ver a boa obra,
festejou seu puro sangue,
e, por ter tempo de sobra,
bem bolou um big bang!
Numerosas nebulosas,
em linhas de produção,
as concretas e as gasosas,
em completa ebulição,
criam estrelas, planetas,
quasares, buracos negros,
mares, luas, sóis, cometas
e também alguns segredos.
Deus, ao ver esse brinquedo,
deu-lhe a alcunha de universo
e por ser feliz sem medo,
foi cantando em prosa e verso.
Graças deu ao bom humor,
sem pensar em si ou normas.
Viu a Terra, deu amor;
e, pras coisas, belas formas.
Pôs a lua em sua órbita,
sete mares sobre abismos
e, numa sacada mórbida,
fez tremer abalos sísmicos
Mas foi derrubando um barro,
que teve a divina eureca,
juntou a ele seu escarro
e fez o homem da meleca!
A mulher foi outro estalo:
“ele vai sofrer com ela,
mas galinha quer regalo.”
E arrancou-lhe uma costela
“Se garantir procriação,
esse cara não me amola
nem vai ver o ricardão
salivar por rola-rola!”
Anos vão a incontilhões,
Deus vem ver algo que preste.
Não vê dois, mas vê bilhões
que resultam do seu teste
“Deus do céu, que foi que eu fiz?
A serpente rolou solta
ou sou a besta infeliz
e a mim mesmo peço a conta!?”
Macambúzio e sorumbático,
Deus começa a ter problemas:
“Satanás é bem mais prático,
que aprimore as suas penas!
La pra cima é que não levo,
isso aqui parece peste,
mas quem manda não é o servo,
meu espaço ele me empreste!”
Por estar em toda parte
e na parte ser um todo,
Deus, da manga, tira a Arte:
“Que se mova à luz e fogo!”
Põe a mágica no mundo
já prevendo confusão,
se um homem vai ao fundo,
salta à boca o coração!
“A raça não desconfia
nem das tramas nem dos fios:
destinos que a roca fia,
que são como são os rios.
Erram sobre incertas terras
e os oprimem margens plácidas.
Sofrem quedas entre as serras
pra morrer num mar de lágrimas!
À arte o meu salvo conduto,
quem a salva será salvo!
Por ser outro o seu reduto:
só o amor mira esse alvo!”
Falou pouco, falou tudo
e foi leve para cima!
Todo bem é seu escudo,
Todo bem nos aproxima.
É possível outro enredo,
deixo isso por talvez.
Não farei nenhum segredo,
ao milagre que é o da vez!
antonio thadeu wojciechowski
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