terça-feira, 7 de maio de 2019

A FLOR E A BOSTA




Sisudo e hermético, vou de cinza por ruas imundas.
Melancolias e poesias me espreitam.
Devo seguir até o soneto?
Posso, sem rimas, revoltar-me?

Olhos duros no cronômetro do smartphone:
Não, o tempo não chegou de completa pureza.
O tempo é ainda de merda, poemas-piadas, trocadilhos e aporrinhações.
O poema pobre, o mundo pobre
fundem-se na mesma angústia.

Em vão me tento explicar, os críticos são surdos.
Sob a pele das palavras há piscadelas e intertextualidades.
A brisa consola os poetas mas não os renova.
A literatura. Que triste é a literatura, considerada sem ênfase.

Vomitar este orgulho sobre a cidade.
Cinquenta anos e nenhum Prêmio Oceanos ganho,
sequer finalista.
Nenhuma resenha escrita nem recebida.
Todos os escritores voltam para casa.
Estão menos livres mas tem seus seguidores nas redes sociais
e tretam com todos, sabendo que se fodem.
OLW

Nenhum comentário: