segunda-feira, 13 de maio de 2019

Delírio



Essa insistente hipótese
mal se sugere: súbito,
o clarão, tão logo a revela,
dissipa-a como um
íntimo equívoco. Delírio,
nesse silêncio, um batimento
de medusas engolfadas
por um mesmo pélago,
campânulas fluorescentes
consumindo o tempo
de seus afazeres enquanto
levitam nas profundezas
de um outro tempo
que as consome. Essa
teimosa hipótese se repete,
precipita, nesse relance,
nossa crença, nossa crucial
verdade, e o que se colhe
nessas margens, essas bolsas
que a maré despeja, talvez
um possível hálito, insólito
que seja, do que, desde
sempre, a eternidade.
De Marcelo Diniz, "Salto":

Um velho mergulha
várias vezes, várias
crianças, todos os seus
jovens lançam-se
antes que seu corpo
abrace, por completo,
a vertiginosa dose
de vazio desse evento.
Um velho está sempre
um instante a mais no
ar, terço de segundo
sem peso, suspenso,
enquanto vê os tantos
corpos descerem a queda
disciplinada e reta da lei
da gravidade irreversível.
Um velho já está no solo,
retornado à borda, já lá,
seco, certo de ter feito
todos os mergulhos,
e recebe todos esses
corpos que se sentam,
sucessivamente, onde
está sentado, há tempos,
após saltarem em sua busca.

 De Marcelo Diniz, 

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