ao poeta Manoel de Barros
1
As manhãs me imensam
como em Ungaretti;
arroios me gorjeiam de esplendor
lá, onde as árvores se garçam
e o sol brinca de arvorecer.
2
A palavra cansanção tem ardimentos
e o menino descalço nem aí
pois lhe escuda a voz dos passarinhos;
esse moleque arteiro estica o sol
carrega o cenho do peru no grito.
3
Bicho danado é maracujá:
engole a voz das ateiras;
as mangueiras roubam o sol do chão
e o pé de mastruz
enverdece os ossos da avó.
4
Mosca de manga
se agiganta no amarelo
como Van Gogh;
borboletas adoçam a aridez dos cactos
e o sanhaçu assusta os mamoeiros.
5
Nas mãos do mar
a linha do horizonte tem cerol
lá, a pipa do céu cai mais depressa
quando as margens da tarde me anoitecem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário