Tenho fome do silêncio das madrugadas,
da paz que a plenitude dos meus sonhos traz,
de poder caminhar pelas ruas, dobrar esquinas,
explorar praças, jardins, recantos
e poder pisar nas areias de certa praia
que existe perto daqueles rochedos
lá pras bandas do meu desassossego.
Tenho fome de poder macerar minhas lembranças,
da solidão que sempre senti em minhas andanças,
da inquietude de ser tão incompleto
a ponto de preferir caminhar pela imensidão
a me afogar em lugares povoados de ilusão
e de poder alquimizar minhas verdades
até transformá-las em compreensão.
Tenho fome da ternura dos teus olhos,
da textura de tua pele branca,
das tuas marcas, sardas, caminhos, atalhos,
recantos umedecidos pelo orvalho,
saliva, suor, peçonha, espasmos,
tenho fome do teu corpo inteiro,
só lamento não poder te devorar.
Tenho fome de poder macerar significados,
de perceber que a passarada em festa
não quebra a harmonia silenciosa dos meus dias,
de saber que águas que inundam meus passos
fazem parte das escolhas que eu faço:
água de chuva, água de rio,
água dos olhos, do seu corpo, água do mar.
Tenho fome de dar vida às coisas,
de poder conversar com as pedras,
de saber delas seus segredos, suas aflições,
de poder perceber o cochicho das folhas
que falam de uma sabedoria perdida,
linguagem dos anjos que me fazem
querer viver sempre um pouco mais.
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