sexta-feira, 26 de abril de 2013

1)BLACK NA UTI MAS MUITAS NOTÍCIAS DE MORTE




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Um milagre para o Black ou simplesmente Marco Antonio Ferreira. Gente de uma estirpe rara quase extinta, poesia em forma de pessoa. No primeiro comentário um poema que fiz pra ele e para os irmãos Rodrigão, Marcos Prado, Sergio Viralobos, Solda, Edilson Del Grossi, Luís Antonio Ferreira, Edson de Vulcanis, Roberto Prado, Renato Quege, Ivan Justen, Walmor Góes e Doutora Gláucia.

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MARCO

black! - lá vai ele para o outro lado
sem adeus, sem aviso, tchau ou bença
nem um “fui!” como última sentença
o mesmo anjo negro agora alado?

como escrever o que eu tinha falado?
a morte não é o que a gente pensa
se derreter em lágrimas dispensa
comentários, então, bico calado?
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não, bem querer foi fácil como um sim,
mais simples do que dar milho pra bode
embora, sem palavras, mesmo assim
peço aos céus que orem por ti, meu brother

de silêncio em silêncio, façam tudo
para que meu doído olhar úmido
deixe meu coração menos miúdo
e ao me alegrar que eu já não seja o único!

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antonio thadeu wojciechowski
2) O DIAGNÓSTICO MÉDICO: PARADA CEREBRAL

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São quase quatro da madruga e eu aqui, longe da cama, pensando no meu amigo em coma. Estará vivo? Sonha ainda? Senti ódio, raiva, ira, vontade de esganar um, rindo! Tanto filho da puta vivinho da silva e meu amigo lá, só, na UTI. Fiz este poema que está no primeiro comentário para me aliviar das saudades da Amy Winehouse, do Marcos Prado, do Leminski, e da inquietação pelo estado do Black.

BACK, BLACK

ébano preto negro escurecido
prisão da noite em cegueira entrevada
seja em mim a lâmina lua esquartejada
o hórrido berro, o urro enlouquecido

se multiplique o negrume adoecido
com lascas de dor jamais curada
que em mim a negridão desalmada
aceite o abismo oco desconhecido

possa o negror retinto da sombra vil
trazer-me toda a negrura pretidão
e a mais bela treva trave meu coração

para que, depois, toda a luz que sumiu,
volte a mim, chama no pretume do carvão,
amor vivo, aceso como nunca se viu!

antonio thadeu wojciechowski

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 3) AS MÁQUINAS RESPIRATÓRIAS SERÃO DESLIGADAS

O sol amanheceu magnífico lá em cima e eu aqui embaixo à espera de um milagre. Vários amigos telefonaram, mandaram mensagens, e-mails. Ontem eu estava com medo de ir ao hospital, medo de receber telefonemas, medo de mim mesmo. Mas hoje o sol amanheceu amarelo lá em cima e eu aqui embaixo lhe escrevi um poema singelo. Leia no primeiro comentário e magnifique-se você também.

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TEMPO DE ESPERA

em minha alma e epiderme
vejo-me a ver-me como um verme
mas o amor que sinto pelos outros
em meu coração de mãe sempre cabem mais uns loucos

nas mãos tenho letras
e o brilho da aurora
do sol amado lá fora
quero mais é mamar nas tetas

sei que não posso viver de brisa
e a vida é tão inesperada
consigo ver tudo olhando pro nada
enquanto a pedra áspera o vento alisa

antonio thadeu wojciechowski
4) MORTE E DOAÇÃO

Vai-se o Marco Antonio Ferreira e fica o Black ou vice-versa. Deixa seus órgãos - olhos pra fulano, rins para beltrano, fígado para beltrano e o coração pra qualquer uma. Cheio de pecadinhos, chega bonito no céu para ocupar lugar muito especial, lado a lado com os favoritos à divindade. Leia no primeiro comentário, um poema que fiz pensando em minha própria morte, durante esses dias de agonia e sofrimento à espera de um milagre, que acabou não acontecendo desta vez.

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LIÇÃO DE VIDA

sei que vou morrer num poema
olhos voltados para a partida
no dia em que eu sair dessa vida
não quero enterro nem crema

deixem-me minguar à chuva e ao sol
ganhar o céu no bico de um abutre
que minha alma se vá spray areosol
levando consigo tudo que me nutre

a meus livros deem todo o amor
se puderem lê-los, façam-me o favor
o doutor tempo a tudo cura
em vez de farmácia, deixo-lhes uma floricultura!

antonio thadeu wojciechowski

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5) A RESSURREIÇÃO INSTANTÂNEA

Já fiz poemas de penca para saudar a lua cheia, as estrelas, o céu, os amigos. Mas a lua tem sobre mim um encanto a mais, hoje, no velório do Black, me ocorreu de olhar pro céu e lá estava ela entre os pinheiros do Jardim da Saudade. Andei entre as tumbas procurando um ângulo para fotografar mas meu iphone é um fracasso para fotos dessa magnitude. Então me dei conta que meus olhos são as mãos e as palavras minhas lentes. Leia no primeiro comentário o poema JARDIM DA SAUDADE e diga se qualquer dia eu não morro disso.

lua de fazer rir
nem os meus cobertores
querem ir dormir

(antonio thadeu wojciechowski)

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JARDIM DA SAUDADE

ali naquela cova um verme espreita,
ansiosamente aguarda meu corpinho
e eu, segurando firme o cigarrinho:
“jesus cristo, esta lua está perfeita!

por que morrer se a vida já é espinho?”
ele, sem ver nada, ouve e me peita:
“sempre que estás com ela, estou sozinho,
achas que a luz da lua é coisa feita?”

eu não sei se é feitiço, amor ou culpa,
sei que, à lua cheia, acertei em cheio:
“jesus, lua não serve de desculpa,
sei bem que este luar, onde recreio,
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hoje ilumina inteiro o cemitério.
por que então, senhor, todo esse mistério?”
jesus, me vendo olhar pro próprio umbigo,
fez ela brilhar mais, só de castigo

antonio thadeu wojciechowski

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