sexta-feira, 26 de abril de 2013


De Mara Paulina Arruda

Verônica uma garçonete em uma cidade fronteiriça assistia o jornal na TV enquanto recolhia os pratos nas mesas. Reclamava dos clientes que deixavam os pratos com restos, e outros que mal tinham tocado na comida, sem falar nas marcas de batom nos copos e dos ossos espalhados nas toalhas de mesa. Peloamordedeus será que esses clientes não viam que havia um pratinho próprio para essa finalidade: Verônica fazia essa análise dos fregueses que passavam pelo restaurante que ficava numa rodovia. Era todo dia a mesma coisa. Gente desleixada!
Ao parar para ver a notícia deu de cara com uma jornalista entrevistando a sua mãe. A mãe segurava um cartaz com o seu retrato que mostrava que ela fazia parte da porcentagem das pessoas desaparecidas no país. O passado bateu na porta. Nossa como ela envelheceu! Verônica estava perplexa com a coragem da mãe.

Passados trinta anos da sua partida estava agora vendo o rosto da mãe que pediu para ela não fosse embora com aquele sujeito com cara de muro salpicado. Mas por que será que aquela jornalista veio justamente entrevistar a mãe dela? Só podia ser intencional, não era possível!
Juntou os pratos e saiu segurando o choro que, na cozinha, desandou.
Buscou o telefone e com um alô mãe reatou a vida perdida em trinta invernos.

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