Rodrigo Madeira
O sexo é sombrio
Antonin Artaud
Loira falsa e libertária,
la puttana, cara Llona,
muito mais que mercenária,
liberava-nos a cona.
Provável, se atriz não fora,
que ela não cobrasse nada,
feito a menina de outrora,
amiga da garotada
e força da natureza,
dando à toa, dando à vera,
já cingindo-lhe a cabeça
coroa de flores e heras.
Se ontem mesmo não foi "séria"
nas putarias políticas,
venerável e venérea,
outra messalina mítica
(a sex-sêneca pagã,
de-putada expondo as tetas,
quase apaziguou Saddam
prometendo sua greta),
que dizer daquele tempo
em que dava a três por quatro,
em que nós, cheios de alento,
a louvávamos no quarto?
Não tornou gostoso o dia,
ninfame extraordinária,
e ensinou quem não fodia,
professora abecedária?
E no escuro Morgenau,
quantas picas acendeu,
quantos cravaram-lhe o pau,
homens de mágoas e breu!
Quem diz que o sexo é sombrio
nunca viu em Cicciolina
a rosa primaveril
abrindo-se, Proserpina.
Mais que o sexo, a própria vida
é sombria – sete selos.
Se o que nasce é despedida
e sofrer é dor, não rima,
o sexo ainda ilumina
um quarto de pesadelos.
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