sexta-feira, 26 de abril de 2013


Posso tentar outra vez.
Mas a palavra hoje não me limita.
Estou em tudo e em ninguém.
Falhei. Falhei quando, juntas,
atravessamos na ilusão dos corpos,
na unidade, quase possível.
O ponto máximo de realidade,
embora os sonhos vivam
porque querem ensinar algo:
que há um lugar aceso para o tempo
que não existe,
senão um lugar que nos pertence
na dimensão sombreada
da memória -
o que ama.
E o que ama tem a carne
dos avessos.
Eu não consigo tocar
mais uma vez,
a carne da minha linguagem.
Posso tentar,
mas os nomes chovem
sobre meu corpo
ermo.
A palavra, manto de água,
despe as serventias.
Há sempre o lado
limpo do leito
que desfere o nome
vazio;
como um último golpe
de dois adolescentes,
no toque desesperado.
As mãos que amam,
as mãos que nunca tocaremos;
que esbofetearam palavras de ordem
depois que não fomos,
consumidos pelos anos,
atravessando o fundo.
O tempo, não mais o medo.
Com que pedaço de memória
poder dizer tudo?
Ultrapasso a linha de chegada.
Ano após ano, de um desejo
que vai afinando como a pele.
Mas em cada coisa escrevo
amor: seu nome altero,
sua marca indelével
que eu risco
neste branco
de pele.

Roberta Tostes Daniel

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