Os acordos deveriam ser feitos
sempre com a leveza que requerem as coisas densas, como se para toda resolução
bastasse um piscar de olhos. Mas do que você está falando? Neste mundo as armas
são outras. Há um princípio de negação que preside a toda vontade de concórdia,
porque os interesses próprios são transbordantes e comumente arrastam consigo
toda noção de limite. No boxe o limite é a lona. Mas no jogo sem regras da
vida, o que abre para toda disposição de injustiça, como em uma querela
ideológica entre pai e filho, o limite pode ser uma caixa de flores para ambos
acomodarem seus ossos. O amor às ideologias parece, às vezes, dotado de um
poder absurdo que ultrapassa todo projeto de resolução estrutural de
instituição feliz (apenas um projeto, tão ideológico quanto elas). Para onde
foi Ágape? Varrido para debaixo da cama. E philia? Escoada pelo esgoto. Só Eros
espia pelas frestas, esperando sua chance de entrar sem pedir licença. Mas
basta. Não se trata aqui nem do amor familiar, nem da afeição entre amigos ou
mesmo da decisão involuntária das ideias do corpo (jamais livre de algum
sofrimento). Falamos de outras tendências do demasiado humano, na justa
expressão de Nietzsche. Pois é nisso mesmo que ele é “demasiado”, por conter em
si mesmo, em potência, todas as disposições da ruína.
Luiz Augusto Contador Borges
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