terça-feira, 22 de novembro de 2016

Brigar é uma infelicidade




 Os acordos deveriam ser feitos sempre com a leveza que requerem as coisas densas, como se para toda resolução bastasse um piscar de olhos. Mas do que você está falando? Neste mundo as armas são outras. Há um princípio de negação que preside a toda vontade de concórdia, porque os interesses próprios são transbordantes e comumente arrastam consigo toda noção de limite. No boxe o limite é a lona. Mas no jogo sem regras da vida, o que abre para toda disposição de injustiça, como em uma querela ideológica entre pai e filho, o limite pode ser uma caixa de flores para ambos acomodarem seus ossos. O amor às ideologias parece, às vezes, dotado de um poder absurdo que ultrapassa todo projeto de resolução estrutural de instituição feliz (apenas um projeto, tão ideológico quanto elas). Para onde foi Ágape? Varrido para debaixo da cama. E philia? Escoada pelo esgoto. Só Eros espia pelas frestas, esperando sua chance de entrar sem pedir licença. Mas basta. Não se trata aqui nem do amor familiar, nem da afeição entre amigos ou mesmo da decisão involuntária das ideias do corpo (jamais livre de algum sofrimento). Falamos de outras tendências do demasiado humano, na justa expressão de Nietzsche. Pois é nisso mesmo que ele é “demasiado”, por conter em si mesmo, em potência, todas as disposições da ruína.

Luiz Augusto Contador Borges

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