sábado, 19 de novembro de 2016

Meu irmão negro, não diga que um branco pobre
não sofre a mesma dor, a dor de ser sempre um imundo
por mais alva esteja as roupas puídas. Sempre estará
exalando o olor dos esgotos. Por mais fome passe para
comprar o sabão.
O escarro na porta da pensão. As portas batendo de ódio,
pessoas despossuídas e tão desvaziadas de dignidade quanto.
Alcatéias de chacais e hienas brancas e negras.
A noite todos eructam em sua face à despejar o lôdo no espelhar.
Olhares de nojo e pena navalham.
E pensar que do espelho daqueles olhos, olhei a sombra arquejada do reflexo.
"Nada do que é humano me é estranho"

Qual o valor que neste mercado tem oferta ?
Tanto quanto a demanda exige.
Encontrar a fuga no caminho a viagem
roleta- russa já não me pertenço. Quão jamais me pertenci.

Meu irmão negro ,
embora sua cicatriz seja tão profunda
quanto a inscrita na tua pele
Testemunha e herança.
Herdamos nós mestiços de não sei quantos sangues
a maldição de sermos bastardos desidentificados
sem rosto nem pátria ou matria
vomitados direto no moedor de carne
renascidos em cada gota de sangue semeados na sarjeta
em cada pedaço de corpo
maná amaldiçoado da miséria
efeitos colaterais da concentração da riqueza.

Wilson Roberto Nogueira.

2005..............Curitiba

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