quinta-feira, 2 de março de 2017

tem sempre uma dor que estreia
desconhecida ainda - dor nova -
a de não poder reparar a beleza
dor fina colada entre as costelas
incomoda e sentes todo instante
a rudeza da hora puro descuido
uma palavra, ou muitas palavras
única forma de alcançar o outro
ânsia de permanecer nas alturas
sem saber o dialeto das esferas
perdida na luz do dia mais pleno
tonta a cair em buracos negros
qual astronauta que cai da nave
tateias restos de sondas farpas
meteoros nebulosas planetas
nem sabes caminhar neste céu
nem sabes ir pelo desconhecido
sem desmontar as constelações
lá, neste lugar onde não cabes
com suas loucas asas revoltas
e seu velho coração carcomido
com o desejo intruso que gira
em uma jaula feito leão faminto
os signos empoaram a claridade
o que foi dito distorceu a flor
esta dor nova, ela dói ao cubo
eu, que perdi tanto pelo mundo,
não havia perdido o intangível
a voz de ondulação que cura
a ternura algodão daquela aura
até para a poesia esta beleza
se fez - indescritível e secreta -
me perdi entre as mil palavras
magoei o belo - isto nada repara -
dói a dor nova no coração antigo
e dói e dói e dói e dói e doerá
cada dia longe do momento-céu
ver uma estrela cair no colo meu

Bárbara Lia

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