quinta-feira, 2 de março de 2017

VIDA DUPLA


Sou contraditória, ouso o desequilíbrio, me permito o naufragar e o reconstruir. Transformo o mergulho em criação e penetro, mais uma vez, no sortilégio da poesia.
Guardo a ternura desaproveitada e abro olhos assombrados à vida que me reclama. Desse desequilíbrio nasce talvez, a única grandeza que eu possa ter, no âmbito do que faço.
Metade vôo e metade racionalidade, reconstruo – principalmente - a mim mesma à cada dia. Nunca sei apenas da racionalidade sem me perder no imaginário que potencializa criação e mudanças, como o cheiro das plantas molhadas pela chuva que acabou de cessar, a televisão a falar de crimes e terror, o canto de um pássaro desconhecido aqui no meu quintal.
Paro o trabalho no computador e vou lá fora conversar com o pássaro.

©Jade Dantas

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