domingo, 9 de abril de 2017

Aqui pra baixo tem uma chácara vizinha à minha. As duas são cercadas, a minha por tela e a outra por muro, e separadas por uma estradinha de chão estreita e curta. Quando aqui cheguei, aquela era uma chácara de final de semana, de churrasco e peladas ao estilo casados x solteiros. Há uns 3 anos, talvez 4, a propriedade foi adquirida por um empresário evangélico, que investiu um monte na infraestrutura do lugar e passou a alugá-lo como "retiro religioso" para grupos da sua igreja. No início, era bem mais concorrido e ruidoso. Por várias vezes entrei em confronto verbal com o dono e os usuários do espaço, por causa da gritaria dos cultos e dos fogos noturnos, que causam sérios danos à fauna local. Até que não soltar fogos foi incluído no contrato de locação da propriedade. Além disso, ele construiu um salão com isolamento acústico, quase não percebo mais a histeria coletiva que acontece lá. A paz foi restabelecida por aqui. No entanto, fui agora dar minha costumeira caminhada pela chácara com meus cães e notei, estarrecido, que os galhos de três araucárias gigantescas que ficam naquele terreno foram totalmente decepados. Restaram apenas três palitos enormes apontando para o mesmo lugar onde eles costumam apontar quando professam sua fé. O que pensar de quem glorifica a Deus enquanto destrói Sua maior manifestação, que é a natureza? Por que fazem isso? Porque para pessoas assim, Deus não está nas árvores, nos riachos, nos bichos, nos frutos. Não. Para essas pessoas, Deus está no dinheiro.




 Marcelo Amorim

Nenhum comentário: