Em lugar ermo mora o riso roubado
E sem palavras, o silêncio triste
As vãs promessas, o gesto desperdiçado
E a saudade que já não existe.
Lá mora o fardo dos desvalidos
E a fraqueza dos sem sustento
Em caminho de espinhos, os pés feridos...
Pouca esperança. Muito lamento.
Passou por lá quieto o desespero
Viu gado morto, terra sem água,
Viu pai sem teto, criança desamparada
Gente sem medo, deitando estrada
Fundo, bem fundo... Guardada a mágoa.
Em lugar ermo mora Ninguém
Preso na terra, fincando os dentes,
Olhando no céu a lágrima que não vem
Contando nos dedos as poucas sementes
Fôlego de vida. Coisa que persiste.
Gente que esqueceu que é Gente!
(Marta Aguiar)
(Pintura: "Os Retirantes de Cândido Portinari )
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