(des)retalhos
Em O livro por vir, percebe-se que "é possível que a
humanidade um dia conheça tudo, os seres, as verdades e os mundos, mas haverá
sempre uma obra de arte (talvez a arte na sua totalidade) que escapa a este
conhecimento universal. Esse o privilégio da atividade artística: o que ela
produz, frequentemente até um deus o deve ignorar".
Blanchot sobre Joubert e utopia : a meta seria desimpedir-se
de todas as convenções que regram o pensamento para transformá-lo numa ação
livre e libertadora, representada na escrita como prática e experimentação
Blanchot intenciona minar a literatura para livrá-la de suas
idéias restritivas, visando uma escrita que sugere como sendo "fora do
discurso, fora da linguagem" , o que chamei de Esquizoescritura, o título
do post.
Questiona os conceitos Deus, do Eu, do Sujeito, da Verdade,
do Uno, da própria idéia do Livro e da Obra, a tal ponto que essa escrita,
antes mesmo de ter o Livro como meta, assinale seu próprio fim. Assim, nessa
linha de pensamento, é possível que escrever exija o abandono de todos esses
princípios, ou seja, o fim e também a conclusão de tudo o que garante a nossa
cultura, não para voltar idilicamente atrás, mas, antes, para ir além, ou seja,
até o limite, com o objetivo de tentar romper o círculo de todos os círculos: a
totalidade dos conceitos que funda a história, nela se desenvolve e da qual ela
é o desenvolvimento"
Diz Blanchot que "escrever, então, passa a ser uma
responsabilidade terrível. Invisivelmente, a escrita é convocada a desfazer o
discurso no qual, por mais infelizes que nos acreditemos, mantemo-nos, nós que
dele dispomos, confortavelmente instalados. Escrever, desse ponto de vista, é a
maior violência que existe, pois transgride a Lei, toda lei e sua própria
lei".
Uma prática surrealista, que provoca o desconhecido pelo
acaso e pelo jogo, seja a referência mais imediata de Blanchot,
→ talvez algo de 'devir' como em Hegel
--> alcançar o objetivo da ampliação desses limites sem
limites.
"Toda questão é determinada. Determinada, ela é esse
próprio movimento pelo qual o indeterminado ainda se mantém na determinação da
questão". "A questão é movimento, a questão de tudo é totalidade de
movimento e movimento de tudo".
Maurice Blanchot - A conversa infinita - Vol. 1 - A palavra
plural.
Blanchot indica a necessidade de pensar a existência humana,
libertando-a de jugos como o pensamento que se estrutura em idealizações
unitárias, que necessariamente levam à discriminação do outro, do diferente.
Com isso, reafirma a necessidade de convivermos com a diferença e a pluralidade
para "talvez nada menos do que quebrar o jugo do deus e sair do círculo
onde ele permanece fechado pelo fascínio da unidade", em busca de
"uma palavra verdadeiramente plural".
Meta -
reflexões: A esquizoescritura
metareflexoes.blogspot.com
Ao ler e reler, reencontro a esquizoanálise de Guatarri...
Vivemos entre, das - maquinas escrevendo
Tania Montandon
Nenhum comentário:
Postar um comentário