A alma seca
recebera aquela
voz – água- corrente
de repente
vida Tornou-se líquida
tornei-me líquida
espasmos, pensara;
água penetrara
pele seca!
Germinei noite a noite
Desejara tragar-te
num gole só
sem verter
uma gota sequer
peito cru,
senão agreste
inchado a golpes
de pedra; enterrado
em terra rachada
fora inundado
Inundação seguida
de contínuo desafogar
rios reprimidos
desoprimindo águas
A vida jorrava
Eu jorrava
Cores jorravam
Sons jorravam!
O amor transformara
sólido em líquido
não recorria
aos petrificados:
Escorri!
Eu,
agora alma fluvial
saltei às embarcações
habitei ilhas sem solidão
aboli o vazio do formigueiro
dedilhei oceanos
ouvi a tempestade:
“é sobre sua falta
de chamas e chuvas”
Aquele som vindo das
Águas: Dentro!
Milagre
Vociferei
Surgira água potável
na lama
no deserto poético
nascera aquela
fonte de versos
Noite, dia amalgamaram
O que era tempo?
Tempo-dentro
o que contava
meus olhos adulteraram
formas: céus, matas
rosas dançavam ondas
ao som das águas
empunhei o arco da minha
íris; fui ao infinito
O mundo mudara de estado
E teus risos vertiam sobre
Angústias como santo graal
em maldições
A couraça do medo aceitou o ópio
E liricamente saltei da lucidez
para o intermediário
Desestabilizei
Convicções rijas
Transgredi sentido
do sentir
Inalei perfume
nos gazes
contaminados.
Incendiei a mim
e aceitei o transe como
condição natural
Pós-espanto
não regressei
à antiga casa
Definitivamente alterada
O corpóreo virou água
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