(conto do livro Alucinário - José Marins)
Apelido infeliz dei ao João. O Afeto Triste mandou chamar,
disse o mensageiro. Fui. Está mal o João, e pede para contar
a
história da morena da boca perfeita.
Ele chegava e pedia: escuta essa. Sempre histórias boas.
Guarda ela pra mim. Escreva num caderno, João. Aí perco de
vez.
Você sabe os floreios de contador, dizia. Fiquei sendo seu
fiel
depositário. Quando aparecia no boteco, eu recontava
algumas.
Seu gozo era ouvir quieto, as histórias dele, imagine.
Corrigia
algum detalhezinho. O pessoal pedia mais. Afetos tristes,
dramas
de nossa infelicidade geral.
Agora, morrendo, João pede para contar a história da morena
da boca perfeita, e eu não me lembro... Juro!
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