A seguir, um poema-hálito, por mais insólito que lhes possa
parecer, sobre uma questão que nos diz muito respeito: a vida, a eternidade que
a compreende. A hipótese-poema que não deixa o poeta, a hipótese-delírio sobre
o existir, muito bonita, imagem forte, de muita vibração: batimento de
"medusas" (na mitologia grega, Medusa é a única mortal das górgonas),
filha de deuses marinhos, criatura mortal, assim como nós, com serpentes na
cabeça, assim como nós, de olhar que petrifica tudo que encontre à sua frente,
à sua mira, assim como nós, "medusas" engolfadas, engolidas, por um
abismo oceânico, como nós, engolidos pelo abismo-morte, que não imaginamos onde
vai dar. Ou, então, a hipótese-delírio sob a forma de campânulas fluorescentes,
flores silvestres coloridas, de colorido forte, consumindo o tempo em suas
tarefas mundanas, assim como nós consumimos, enquanto um tempo maior, tempo do
"correr da vida", as consome, tal qual acontece conosco. O desde
sempre mesmo movimento da eternidade: as coisas consumindo o seu tempo no
"estar-no-mundo" enquanto um tempo maior as atira para dentro de um
abismo de onde nunca se consegue sair.
Paulo Sabino
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