"Se queres ser universal, canta tua aldeia..." ,
escreveu Paulo Freire, alhures. Concordo. Mas mas há que se ter mente uma
questão de ordem filosófica e antropológica: a aldeia existe somente porque
existe o mundo, e o mundo existe porque existem lugares - no sentido de Milton
Santos - plurais, diversos em suas culturas. Falam-se, hoje, no planeta terra,
mais de 7.000 línguas. E cada língua pode ser falada, com suas variações
(dialetos) por várias nações em vários pontos da terra. Precipitados de
diásporas, processos coloniais, deslocamentos forçados e coisas do tipo. É
nessa relação especular, entre o local e o global que pulsamos! Se eu canto
"minha" aldeia, é porque existem outras que não são
"minhas", são diferentes, são "outras", outras nações,
outros grupos, outros povos, além de diferenças como as de gênero, orientação
sexual, etc...que podem levar a formação de "outras" tribos,
inclusive as chamadas tribos urbanas. Entre o "eu" e o
"outro", o "local" e o global" ocorrem relações
dialéticas, num processo sinérgico sem par, sobretudo no mundo atual. É preciso
esclarecer que não basta cantar a "minha aldeia" para ser universal.
É necessário a consciência da diversidade sociocultural e, portanto,
linguística, de classe, de gênero, etc...e, ao cantar a "minha
aldeia" ter plena consciência de que ela existe enquanto um precipitado de
formas de ser e estar no mundo, múltiplas, diversas, especulares,
sinérgicas...E remendaria o texto de nosso saudoso educador: "Se queres
ser universal, canta tua aldeia, sem que te olvides da tensa relação entre o
local e global! Sem deixar de sentir-te apenas um, entre tantos
"outros". E que há diferenças, mas há também semelhanças,
recorrências onde dormitam, quiças, os sentimentos atávicos.
Edir Pina de
Barros
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