Amparo o tempo
na flanela que levo
aos óculos,
as mão trêmulas
diante da iminência
do inverno rigoroso,
a infertilidade do campo,
a aridez do prado onde pousou
a sombra do pássaro amigo
da solidão geral.
Esfrego lentamente
a lente,
a lágrima de algum tempo,
a rejeição que não faz mais
nenhum sentido,
esfrego a lente
pra definir certa imagem,
laivo de luz,
praça ou paisagem,
eu me associo mínimo
ao gesto natural
das flores,
que é deixar a pétala
se entretecer de vento,
eu fico um modo muito particular
de família,
a assinatura de dimensões infinitas,
feito nominar um canto
do céu, do oceano,
do espaço sideral.
Ajusto a gola,
a participação na discussão,
uma contribuição qualquer,
e percebo que há um tempo
de esquecer as lentes
na escrivaninha do pai
e retirar da terra
as lãs que a mãe preparava,
sua proteção contra o vento,
retirar da terra
o rim que lhe sangrou no prato,
a literatura,
a torre,
um esquecimento,
todas são aves de partir,
basta fingir que as folhas
são asas,
pequenas asas,
nenhuma admiração,
o alto da casa espreitando a estrada
e a última solução guardada
na falta de palavra,
na falta de ação,
o recurso maior desse povoado
é ver cumprir no sol
sua aliança com a noite.
fiori esaú ferrari
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