Arqueado pelo peso dos anos e desenganos, ele entrou naquele
bar onde um garoto franzino, de violão surrado, tocava velhas e novas cancões.
Aí ele pensou na vida, isto é, se valera a pena a sua vida. Nenhum de seus
sonhos se realizara: não se tornara escritor, não mudara o mundo, nem mesmo o
seu mundo, que afinal se tornara tão parecido com o de seus pais... Além disso
nem sequer gozara de um simulacro de felicidade, muitas vezes trabalhando em
ofícios detestáveis, aguentando pessoas mesquinhas, sendo mesquinho também...
Vai ver a vida é isso mesmo: no final a gente sempre perde. Então, de repente,
o garoto franzino começou a tocar 'Clube da esquina nº 2' e ele se lembrou que
tinha cerca de 18 anos quando ouviu aquela canção pela primeira vez, justamente
quando, com uma mochila nas costas cheia de livros e sonhos, caiu na estrada.
"Porque se chamava homem / também se chamavam sonhos / e sonhos não
envelhecem..." Pediu mais uma cerveja para o garçom, com uma dosezinha de
conhaque ordinário. Sorriu e meio besta se viu enxugando um lágrima furtiva.
Pensou: se escrevo isso não vai passar de uma narrativazinha piegas. Mas
dane-se, a vida é piegas e sonhos não envelhecem.
Otto Leopoldo Winck
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